A curiosa história de como a Disney recuperou seu 1º personagem

Descubra a longa saga da Disney para resgatar seu personagem mais antigo em um negócio inusitado, além de conferir os bastidores por trás do acordo.

Você sabia que o primeiro personagem da Disney não foi o Mickey Mouse? Antes do surgimento do personagem principal da Disney, outro animal era o destaque no Walt Disney Studios.

De 1923 a 1927, Walt Disney produziu uma série chamada ‘O País das Maravilhas de Alice’, baseada na obra de Lewis Carroll, que combinava animação com atores reais.

No entanto, ele encerrou o projeto para se concentrar em uma produção totalmente animada.

A solicitação foi feita pelo produtor Charles Mintz, que planejava distribuir o novo desenho pela Universal Pictures. Foi nesse momento que Walt e Ub Iwerks, animador e seu amigo de longa data, criaram Oswald, o Coelho Sortudo.

A Disney produziu 27 curtas com Oswald; no entanto, o sucesso do coelho foi breve.

Em 1928, Walt Disney foi a Nova York renegociar um contrato mais lucrativo com a Universal, que detinha os direitos de Oswald e que, na época, era parceira da Disney.

Foi então que ele descobriu que o estúdio havia contratado quase todos os animadores da Disney para produzir os desenhos por conta própria. Walt saiu da reunião sem acordo, sem funcionários e sem o coelho.

Meses depois, Walt criou o Mickey, um ratinho com feições e personalidade bastante semelhantes às de Oswald. Com o passar do tempo, Mickey acabou tornando-se um ícone internacional, enquanto Oswald caiu no esquecimento.

Nas décadas seguintes, Oswald estrelou mais alguns curtas (alguns feitos por Walter Lantz, criador do Pica-Pau) e histórias em quadrinhos. No entanto, a partir dos anos 1960, ele começou a acumular poeira nos arquivos da Universal.

Somente em 2006, 78 anos após sua criação, a Disney conseguiu recuperar os direitos do personagem.

O acordo ocorreu devido a uma disputa pelos direitos de transmissão do futebol americano.

A saga da Disney para trazer de volta seu personagem mais antigo se desenrolou em um negócio inusitado – Foto: Walt Disney Studios/Reprodução

Quem comanda o jogo?

A NFL, a principal liga de futebol americano dos EUA, é o campeonato esportivo mais assistido do mundo.

Os direitos de transmissão são distribuídos entre várias emissoras, mas é evidente que alguns horários são mais nobres que outros.

Dois dos jogos de maior audiência são os de domingo à noite (o Sunday Night Football) e segunda à noite (o Monday Night Football).

Durante décadas, a emissora responsável pela transmissão do Monday Night Football foi a ABC, que, nos anos 1990, foi adquirida pela Disney. Na época, a ABC era o segundo maior canal aberto dos Estados Unidos.

Naquela época, a Disney fez um grande investimento na televisão, adquirindo 80% da ESPN, canal a cabo que transmitia o Sunday Night Football.

No entanto, decisões estratégicas nos anos 2000 levaram a empresa a alterar esse arranjo futebolístico. Afinal, não havia motivo para manter a cobertura do mesmo evento em dois canais diferentes.

Em 2005, a ABC interrompeu a transmissão da NFL. O Monday Night Football, então, passou a ser transmitido pela ESPN.

Por outro lado, o Sunday Night Football deixou de ser transmitido pela Disney e foi para a concorrente NBC, que recentemente havia se fundido com a Universal (lembre-se dessa informação).

Naquela ocasião, a ESPN se deparou com duas equipes de transmissão: sua equipe interna e os profissionais da ABC.

Enquanto decidia quem integraria a cobertura do Monday Night Football, a NBC agiu rapidamente e contratou diversos profissionais da ABC, incluindo o comentarista e ex-treinador John Madden, uma das figuras mais conhecidas da NFL.

Quando Madden saiu da Disney, houve especulações de que seu parceiro de transmissão, o locutor Al Michaels, seguiria o mesmo caminho.

E foi exatamente o que aconteceu: Michaels, que trabalhou na ABC por mais de 30 anos, manifestou seu desejo de rescindir o contrato para se juntar à NBC.

Restou ao então presidente da ESPN, George Bodenheimer, discutir o caso de Michaels com o CEO da Disney, Bob Iger.

Na reunião, Iger teve uma ideia: sugeriu a Bodenheimer que negociasse a saída do apresentador em troca dos direitos do coelho Oswald.

Iger havia acabado de assumir o comando da empresa e enxergou em Oswald uma chance de revitalizar o legado da Disney, além de agradar os herdeiros de Walt.

Naquele momento, nem Bodenheimer nem os executivos da NBC Universal, com quem ele conversou, conheciam o coelho.

A estratégia deu certo. Michaels foi para a NBC e aceitou o acordo sem problemas. A Disney organizou uma festa, com desfiles e almoços gratuitos, para comemorar o retorno oficial de Oswald.

Hoje, Michaels continua narrando os jogos da NFL. Quanto ao coelho, ele aparece ocasionalmente em desenhos e jogos de videogame, mais como um easter egg do que como personagem principal.

Desde janeiro de 2023, a primeira versão do Oswald, bem como seus curtas mais antigos, tornaram-se domínio público.

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