Brasil lidera ranking dos países onde mais se acredita em Deus
A pesquisa foi realizada pelo Instituto Ipsos.
Do “Deus te abençoe” ao “Deus me livre”, a religião está na boca dos brasileiros, sejam eles crentes ou ateus. E uma pesquisa recente, a Global Religion 2023, constatou que cerca de 9 em cada 10 brasileiros dizem acreditar na existência desse ser superior, dando ao Brasil o primeiro lugar na lista dos países onde mais se acredita em Deus.
De acordo com Helio Gastaldi, um dos diretores do Instituto Ipsos – e responsável pela pesquisa –, os dados do levantamento são consistentes com um fenômeno estudado.
Ele explica que países com uma população onde o PIB per capita é menor ou existem grandes índices de desigualdade, a vida religiosa costuma ter uma relevância muito grande para a população. Gastaldi acrescenta:
“São locais onde a religião de certa forma supre a ausência do Estado. Ela traz perspectiva, consolo, às vezes até assistência material – mas também pode ser usada como forma de manipulação e ferramenta do poder.”
No levantamento do Ipsos, 90% das pessoas responderam que acreditam em Deus ou em forças superiores para ajudar a superar crises, como doenças, conflitos e desastres. Para entender isso, é necessário conhecer o contexto da fé no Brasil.
Contexto da fé no Brasil
Para entender porque o Brasil lidera o ranking dos países onde mais se acredita em Deus, precisamos olhar para sua história documentada.
O que se sabe sobre as crenças no país antes da colonização é muito limitado, sobretudo porque uma das ações colonialistas foi a catequese imposta pelos portugueses à população nativa, e isso tem um papel central nas identidades nacionais.
Essa parte da história é recorrentemente contada e tem um impacto decisivo nesse índice. Fernando Altemeyer, professor do departamento de Ciência da Religião da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), explica que:
“Apesar da opressão da colonização ter vindo embutida com a religião para o Brasil, na forma da religião imposta, de certa forma o povo soube separar Deus do missionário e ficou com a figura de Deus.”
Ricardo Mariano, sociólogo da Religião e professor da Universidade de São Paulo, acrescenta mais uma consideração ao contexto. Ele aponta que, historicamente, todos os movimentos de oposição ao poder ou governo de qualquer período nunca tiveram um caráter de combater a religião ou espiritualidade.
A tradição social e política no Brasil seguiu um caminho muito diferente da tradição iluminista, com movimentos políticos ideológicos anticlericais e seculares. Isso porque é justamente a secularização que é responsável pelo afastamento de uma sociedade da religião.
Sobre a não secularização do processo social e político do Brasil, Mariano faz duas observações. A primeira é que até mesmo a classe média nacional não é altamente secularizada. A segunda é que, inclusive, os movimentos de esquerda não fizeram uma oposição à religião em si.
Ele usa como exemplo o PT, maior partido de esquerda do país. Mariano conta que as origens do partido estão ligadas ao catolicismo da Teologia da Libertação. Essa corrente católica tem como prioridade defender a atuação da Igreja em favor do combate à desigualdade social.
Ranking dos países onde mais se acredita em Deus
Agora, vamos ver um panorama geral da pesquisa do Instituto Ipsos sobre os países onde mais se acredita em Deus.
A pesquisa foi realizada numa plataforma online de monitoramento que coleta informações sobre o comportamento das pessoas. A Global Religion 2023 se baseou em dados coletados de 19.731 entrevistados, entre 20 de janeiro de 3 de fevereiro.
Em primeiríssimo lugar, com índice de 89% está o Brasil, no topo do ranking de 26 países. O Brasil tem um empate técnico com a África do Sul e Colômbia, com 89% e 86%, respectivamente.
No extremo oposto, os países onde a população menos crê em Deus ou em um poder superior foram Holanda (40%), Coreia do Sul (33%) e Japão (19%).
Na pesquisa, o Brasil aparece com 28 pontos percentuais acima da média na crença em Deus, que foi de 61%. Enquanto o Brasil lidera o ranking quando se considera a crença em um poder superior, por outro lado, quando se fala em quantidade de pessoas religiosas, países como Índia, Tailândia, Coreia do Sul e Japão saem na frente.
Gastaldi, do Ipsos, explica que isso acontece devido às características particulares da fé nestes países. As religiões como o budismo e o xintoísmo são não teístas. Isso significa que elas não têm um conceito de Deus ou de um poder superior como nas religiões abraâmicas, como o cristianismo, islamismo e o judaísmo.
As religiões não teístas estão mais ligadas a um certo entendimento de filosofias de vida focadas na iluminação espiritual individual, o que facilita a adesão, ainda que as pessoas não creiam numa divindade propriamente dita.