As contradições do cineasta Michael Bay

Ao voltar ao Armageddon de Michael Bay em 2021, o que não faltam são momentos inesquecíveis que vêm à tona

Em relação ao Michael Bay, existem momentos memoráveis, como a introdução do herói de usa um colarinho azul de Bruce Willis. Tem, também, Harry Stamper junto aos seus amigos durões que provocam os manifestantes do Greenpeace arremessando bolas de golfe de uma plataforma. Há a infame cena dos biscoitos, na qual mosta Bem Aflleck e Liv Tyler se envolvendo em uma incompreensível atração de um roteirista de conversa mole com uma amante, enquanto “Don’t Wanna Miss A Thing’’ do Aerosmith toca na trilha sonora.

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Os espectadores podem  lembrar-se  com afeto de Peter Stormare e seu memorável sotaque russo, assim como o discurso de despedida choroso de Willis ou o clímax fantástico do longa, onde um asteroide do tamanho do Texas está vindo em direção à Terra e está prestes a destruir tudo, porém, é impedido por alguns bons e velhos meninos caseiros.

O que o espectador pode não se lembrar é o intervalo visual tranquilo e quase malicioso em que Bay espalha pela extensão gigante deste filme épico e memorável de 150 minutos. Bay acaba se afastando das suas façanhas heroicas e acaba voltando seu foco para os moradores preocupados em terra firme.

Durante esse período, Bay está encenando esses momentos em muitos pontos pelo mundo, normalmente, enquanto ouve algum noticiário proibido, esbanjando beleza em fotos do coração americano: por mais fútil que Armageddon seja, o personagem nunca esquece que existem vidas reais em jogo dentro do quadro desta história. Existe algo, que não se pode negar, americano para o bem e para o mal na negativa de Harry Stamper à experiência da NASA: Harry e sua equipe de fortes homens que fazem perfurações, vão executar o trabalho à maneira antiga, faça um calor infernal ou um frio de congelar.

Michael Bay é a definição de um cineasta norte-americano que está nos registros, de acordo com o fantástico “ An Oral History of Michael Bay ”, da GQ , falando: “Eu sou, tipo, um verdadeiro americano”. Portanto, de novo, Bay ainda precisa dizer isso? É suficiente olhar toda a sua trajetória como Pearl Harbor, Transformers, 13 Horas: Os Soldados Secretos de Benghazi e muito mais.
Estas obras não se restringem em ser apenas bons longas-metragens americanos e sim, filmes que trazem aos espectadores uma visão sobre o mundo e os conjuntos de preocupações que, por si só, são únicos para os EUA e toda sua história conturbada.
Neste momento, iremos esclarecer, logo de cara, um erro: ainda que as acusações sobre as atitudes culturais regressivas que, em certos momentos, se mostram acertadas nos filmes de Bay, falando que ele é um cineasta ultra consumidor. Porém, isso não quer dizer que o cineasta fez só Underground seja um libertário, longe disso. Ainda que Bay esteja apaixonado pela força militar norte-americana, ele se mostra um contador de histórias autoconsciente.

Tomando o filme 13 horas, por exemplo. Esse longa de ação é sobre a vida real e trata-se de um relato explosivo de seis ex-soldados americanos que tentaram, de todas as formas possíveis e impossíveis, proteger um complexo dos EUA em Benghazi de militantes armados.
Observando a história apolítica de Bay e sua vontade bem nítida de divulgar o militarismo pelos EUA, alguns críticos dizem que 13 horas seria um filme tendencioso à direita e, quem sabe, até um trabalho sensível contra Hillary Clinton. Assim, como ocorre em todos os seus trabalhos, o cineasta se foca em histórias simples e contadas pelos heróis norte-americanos que salvam vidas americanas.
Bay veio de uma escola de diretores de videoclipes nos anos 80 e 90, que também incluía outros nomes de sucesso como David Fincher e Spike Jonze, que tem o hábito de fazerem filmes ambientados na América, como se fosse uma espécie de padrão artísticos, porém, você não teria pensado em enfatizar de que os dois são diretores americanos.

Com Bay, o espectador, literalmente, perde a capacidade de pensar em seus filmes ambientados em outro lugar. Ainda que seus longas se desenrolem em terras do exterior (6 Underground) ou até na superfície lunar, em Transformers: Dark of the moon, eles lembram norte-americanos quase que em medida molecular.

Na ampla maioria dos filmes de Michael Bay, o mundo, uma nação inteira e seu futuro estão em jogo. Ele não é um cineasta que se interessa por histórias nas quais as pessoas normais e humanas sentam-se em suas sacadas com cafés preferidos e falam sobre suas questões. O alvo do diretor é bem mais amplo que isso, porém, existe uma exceção a regra Bay: Pain & Gain, uma comédia de humor negro, de 2013, que talvez seja a única vez em que Bay saiu da sua linha de filmografia.

Pain & Gain é uma sátira insana que se baseou em uma história real sobre um trio de fisiculturistas imorais, residentes da Flórida que são conhecidos como a gangue Sun Gym, eles têm como líder um valentão inseguro chamado Daniel Lugo (Mark Wahlberg). Analisando brevemente, Pain & Gain é uma jogo insano para Bay. Foi um filme que não contou com explosões, robôs e cenários de nivelamento da cidade. Ao produzir  Pain & Gain, Bay se inspirou no filme do diretor Joel e Ethan Coen.

No filme Pain & Gain, Bay explica que a razão pela qual os três personagens, pouco inteligentes, sequestram e torturam um homem de negócios rico e com muitas posses (Tony Shaloub) é porque os personagens acreditam, de forma errada, que possuem direito sobre uma parte da fortuna do ricasso. Os três aceitam que erraram de forma americana e, na verdade, possuem mais do que trabalharam para ter, fizeram muito pouco por suas conquistas. Os três acreditam que se trabalharem bastante, terão a sorte e acabarão ganhando um dia seu pagamento, porém esse fato leva à queda deles.
Isso mosta que Michael Bay está bem mais ciente do prisma perigoso do que o dogma de ‘’poder fazer’’. Algo que todos nós estamos muito mais acostumados.

Porém, isso não diz que Bay é um bêbado e apaixonado pelo pensamento fixo na América. Isso fica claro no difamado Pearl Harbor, que é uma visão iludida e moralmente descomplicada de um país ideal, como antigamente era.
Você até vê isso no seu trabalho do suspense direto de um filme como The Rock, são longas nos quais é muito legal ser um patriota, o que é considerado muito problemático e até feio no clima político do país nos dias de hoje. Uma palavra com significado tão pueril como ‘patriota’ mudou sua semântica quando comparada com seu sentido há 30 anos atrás.

E esta é a contradição tensa em que anda-se quando se opta por defende-lo. Afinal, os EUA não é tem apenas uma característica. A América não é boa, ruim, ótima ou péssima. Com certeza, não é sempre a terra da liberdade e o lado dos bravos e sim, uma confusão de contradições, vista por uma história cheia de espinhos, em várias ocasiões sombria e que grande parte das pessoas, aos poucos, está começando a desvendar de forma importante. É impossível resumir a América em uma palavra ou descrição simples que faça uma redução dela. E nem a filmografia de Michael Bay.

 

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