O Oscar tem medo de sentir medo? Por que a academia ainda esnoba as produções de terror?
Com as indicações para o Oscar 2023, fica a questão sobre como o gênero do terror é visto pela academia após um ano com produções tão imponentes para a indústria.
O evento de maior relevância para as produções artísticas do cinema chega a sua 95ª edição no dia 12 de março de 2023, onde celebrará as melhores produções em uma série de categorias que contempla o próprio longa, suas equipes de produção e corpo de elenco.
Entretanto, o Oscar vem sendo alvo de críticas há alguns anos. Entre os diversos fatores que colocam em cheque a relevância da premiação, parte das críticas vem sendo fomentada principalmente por um gênero injustiçado: o terror.
Ao longo de suas 94 edições, apenas em seis delas houve um filme do gênero do terror que foi escalado para o prêmio de melhor filme, e nem todos chegaram a ganhar a estatueta. Ainda que seja verdade que o terror não contempla as obras mais artísticas e de melhor qualidade em atuação, produção e roteiro, o gênero fomenta a indústria.
O impacto do terror nas salas de cinema é maior que o da maioria dos longas levados para a premiação do Oscar, e ainda assim, não há tantas produções do gênero nas categorias. Antes da massiva presença dos super-heróis, eram as histórias apavorantes que preenchiam e ainda preenchem os assentos do cinema.
Entre os indicados de melhor filme do Oscar, os únicos que se encaixam no gênero de terror são: “O Exorcista” (1973), “Tubarão” (1975), “O Silêncio dos Inocentes” (1991), “O Sexto Sentido” (1999), “Cisne Negro” (2010) e “Corra” (2017). Contudo, ainda vale a ressalva sobre o verdadeiro gênero de “Cisne Negro”, que se encaixa melhor como um drama, suspense e terror psicológico, e não o terror propriamente dito.
O mercado cinematográfico nunca ficou carente de produções do terror. A Universal cresceu a marca com seu universo de monstros, que por vezes foram esquecidos na premiação. Além disso, “Tubarão” abriu o cinema para os blockbusters, e posteriormente, “Corra” fez o mesmo para o terror estrelado por pessoas negras.
A importância de sua representação na premiação traz para a própria indústria o reconhecimento e a visão que essas obras precisam para acrescentar ainda mais dentro do próprio cenário. O assunto vem à tona com a próxima lista de indicações aos Oscar, que será divulgada nesta terça-feira, dia 24 de janeiro.
A falta de prestígio da academia com o terror
Nos últimos anos, o terror trouxe para as salas de cinemas obras primorosas como “Hereditário” (2018), “Midsommar” (2019), “O Homem Invisível” (2020) e outros longas que tiveram aclamação do público e não foram contemplados em nenhuma categoria.
Fora as seis indicações já citadas para o prêmio de melhor filme, outros longas do terror já ocuparam categorias de menor prestígio dentro da premiação.
Essa visibilidade de qualquer maneira é importante. Contudo, há uma injustiça perante diversos projetos apenas pela característica da obra, visto que, como qualquer outro filme, não deixam de ter sua qualidade por conta do gênero.
A grande expectativa é que os filmes “X: A marca da morte” (2022), “Pearl” (2022) e “Não! Não olhe!” (2022) não sejam esquecidos nas indicações desse ano, visto que foram abraçados pela crítica e pelo público de forma que merecem o reconhecimento da academia, e as atuações apresentadas aqui precisam ser notadas.
Com as mais recentes críticas ao corpo de votação do Oscar, algumas mudanças ocorreram entre os membros da academia. Contudo, pouco mudou em relação aos prêmios. Ainda há uma forte cobrança para que novos membros sejam vistos, novos projetos recebam atenção e que a premiação seja, de fato, um prêmio ilustre a quem o recebe.
A questão em torno dessa situação é: “A academia tem medo de sentir medo?” Pois se não tiver medo, deve ter ódio do terror para permanecer ignorante diante do poder que o gênero possui sobre a indústria. É esperado que mudanças aconteçam, da mesma forma que não se espera coragem de quem tem medo de sentir medo.