Chicletes de 10 mil anos mostram dieta de pessoas da Idade da Pedra

Resina de 9,7 mil anos é descoberta e estudada, revelando os hábitos alimentares e desafios odontológicos das pessoas que viviam na Idade da Pedra.

Há aproximadamente 10 mil anos, na costa oeste da Escandinávia, um grupo de pessoas desencadeou um comportamento peculiar: a mastigação de resina para produção de cola.

Hoje, as pistas deixadas por esse hábito antigo ajudam a entender melhor o hábito bucal desses antigos habitantes da Idade da Pedra.

O achado aconteceu no sítio arqueológico Huseby Klev, na ilha de Orust, e, desde então, os resquícios dessa prática têm sido objeto de estudo minucioso pelos pesquisadores.

Os resultados mais recentes, lançados na revista Scientific Reports, apresentam uma análise detalhada sobre o DNA presente na resina mastigada, revelando detalhes intrigantes sobre a vida desses caçadores-coletores.

Chiclete de 10 mil anos revela hábitos da Idade da Pedra

As resinas encontradas ficaram no formato dos dentes e revelam muito sobre os hábitos alimentícios daquela época – Imagem: Verner Alexandersen/Reprodução

Inicialmente, a resina mastigada de Huseby-Klev foi alvo de estudos genéticos humanos, destacando a conexão desses mastigadores com os caçadores-coletores escandinavos.

Porém, uma nova vertente de análise voltou-se para os microrganismos presentes na goma, oferecendo uma visão mais abrangente dos hábitos alimentares e da saúde bucal desses antigos habitantes.

O hábito de mastigar resina dá uma riqueza de sequências de DNA, e nelas são encontradas tanto bactérias associadas à periodontite quanto DNA de plantas e animais que eles haviam mastigado anteriormente, explica Emrah Kırdök, autor da pesquisa, do Departamento de Biotecnologia da Universidade de Mersin, na Turquia.

O cardápio das pessoas na Idade da Pedra

A análise do DNA nos “chicletes” pré-históricos revelou um cardápio surpreendente. Os adolescentes que mastigavam resina em Huseby Klev desfrutavam de uma dieta diversificada, incluindo carne de veado, trutas e avelãs.

Restos de maçã, pato e raposa também foram identificados, sugerindo o que eles consumiam e como processavam tais alimentos.

Os cientistas observaram não apenas o que esses adolescentes ingeriam, mas também os desafios enfrentados em sua rotina bucal.

Um dos achados mais intrigantes foi a presença de bactérias que mostram sinais preocupantes de periodontite em um dos pedaços mastigados.

Essa infecção gengival grave provavelmente causou dores e dificuldades ao mastigar, impactando a qualidade de vida dessa jovem.

A hipótese predominante é que a resina era mastigada não somente por prazer, mas também por sua utilidade prática.

Os caçadores-coletores da época, ao que tudo indica, utilizavam a substância como cola na fabricação de ferramentas e armas, como sugerem os resíduos encontrados nas juntas desses instrumentos.

A importância da metagenômica no DNA antigo

Este estudo, baseado na metagenômica do DNA antigo, fornece um instantâneo fascinante da vida de um pequeno grupo de caçadores-coletores na costa oeste escandinava.

A análise detalhada das sequências de DNA presentes na resina mastigada oferece uma compreensão mais profunda dos hábitos alimentares, desafios de saúde bucal e até das atividades cotidianas desses antigos habitantes.

Embora a mastigação de resina para produção de cola possa parecer estranha aos olhos modernos, tal estudo destaca a complexidade e a adaptabilidade das sociedades pré-históricas.

Cada pedaço de chiclete revela não somente vestígios genéticos, mas ainda uma história rica e multifacetada de uma era distante, moldada pelos sabores e desafios únicos da Idade da Pedra na Escandinávia.

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