Qual era o transtorno do Rei George da série da Netflix?
Especialistas em psiquiatria compartilham suas considerações.
O anúncio do spin-off de “Bridgerton” contando a história da Rainha Charlotte trouxe expectativas de finalmente termos uma resposta sobre qual era o transtorno do Rei George da série da Netflix.
O casal é apresentado como determinante na mudança social do Reino Unido na época (ficcional) e, para a felicidade do casal – e para o público de eternos românticos –, eles conseguem viver uma história de amor tão impactante quanto os casais que os precederam.
No entanto, ficamos com uma sensação agridoce por saber os rumos futuros da vida da Rainha Charlotte e do seu relacionamento com o Rei George (mas agridoce ainda é melhor que só amargo, não é mesmo?).
Enfim, não só de paixão e amor viveu esse casal tão prolífico. O gênio de Charlotte precisou lidar com o desafio dos surtos de agitação e dissociação de George.
Para ajudar a encontrar um possível diagnóstico da condição do rei, chamamos Luiz Scocca, psiquiatra do Hospital das Clínicas da USP e membro da Associação Americana de Psiquiatria (APA) e Wimer Bottura, psiquiatra membro da Associação Brasileira de Psiquiatria.
Os sintomas do transtorno do Rei George da série da Netflix
Na série, os sintomas mais recorrentes foram os surtos de agitação e dissociação, precedidos de tremores nas mãos e alucinações.
De acordo com especialistas, esses sintomas não são suficientes para um diagnóstico preciso sobre o transtorno do Rei George da série da Netflix, mas, ainda assim, é possível fazer especulações plausíveis.
Isso fica mais difícil se formos considerar que a questão de saúde mental não era vista da mesma maneira que vemos hoje.
A psiquiatria nem era uma área de estudo da medicina da época, o que impede comparativos mais consistentes para considerações nos parâmetros de conhecimento atuais. Mas não custa tentar especular.
Opção 1: Porfiria
Essa primeira opção é considerada por ter sido encontrado arsênico no cabelo do rei em pesquisas posteriores à sua época.
E aqui vale mencionar que a porfiria pode ser causada por intoxicação do sistema nervoso. Ela pode ser provocada por substâncias como o arsênico, que pode até levar a quadros de demência.
A porfiria também era uma condição genética comum da época por conta do costume do casamento entre parentes, conforme explica Scocca.
Opção 2: Hipomania
Já Bottura considera a possibilidade de que o rei tivesse hipomania, que é um estado de euforia anormal que não pode ser considerada uma doença.
Nesse transtorno psiquiátrico, a pessoa vive num estado entre a normalidade e a mania – de euforia, hiperagitação, excitação e ego expandido. Pela agitação, essa condição é comumente confundida com hiperatividade.
Opção 3: Demência
Outra possibilidade abordada por Bottura é a demência. O que poderia explicar a considerável perda das capacidades do rei no fim da vida.
Ainda mais se levarmos em conta que o rei chegou a viver mais de 60 anos, o que já era uma idade muito avançada para a época, que é quando os documentos são mais categóricos sobre o “enlouquecimento” do rei.
Opção 4: Esquizofrenia
No entanto, por considerar a inconsistência dos registros históricos, Scocca argumenta que pode ser mais provável que o rei também tivesse esquizofrenia ou transtorno de bipolaridade.
O especialista fala que é comum pessoas com esquizofrenia terem a sensação de estar sendo perseguidas, ter alucinações auditivas e pensamentos atrapalhados e delirantes. Ao passo que o transtorno de bipolaridade envolve uma oscilação entre períodos maníacos e depressivos.
Opção 5: Dissociações
Por fim, Bottura considera que os sintomas de perda de conexão com a realidade, apresentados pelo personagem, são característicos de uma pessoa que sofre com dissociações.
Hoje em dia, existem tratamentos medicamentosos para esse quadro, mas tanto a ausência dessa possibilidade como a carência de entendimento da época e seu recorrente isolamento social podem ter agravado o quadro do rei.