ISTs em alta: como isso aconteceu? Veja dicas práticas para se prevenir
Especialistas percebem a banalização dos riscos e a queda no uso da camisinha.
As infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) estão em alta no Brasil. Dados recentes mostram um aumento assombroso nos casos de gonorreia, sífilis e HIV.
A pandemia sobrecarregou tanto os sistemas público e privado de saúde que a atenção com outras doenças ficou de lado. Além disso, tabus relacionados às ISTs, a desinformação e a falta de uma educação sexual eficaz são fatores que contribuíram grandemente para esse cenário.
Em cinco anos de censo realizado pela Secretaria da Saúde sobre o tema, foram registrados 29 mil novos casos de alguma IST no país. Mas o dado mais alarmante é o perfil dos infectados: jovens adultos entre 20 e 29 anos.
Todas são infecções evitáveis e curáveis se tratadas precocemente. Então, por que os casos estão aumentando?
Cenário geral
Os dois principais fatores que nos ajudam a atender o porquê do aumento dos casos de ISTs no Brasil são: a banalização das consequências de uma infecção e a queda do uso de preservativos. Como várias das infecções são tratáveis e até curáveis, consequentemente os jovens deixam de se proteger e usar a famosa camisinha.
No censo realizado pela Secretaria da Saúde entre 2010 e 2015, foram notificadas: 3.010 novas infecções de Aids, 4.290 de sífilis, 6.550 de condiloma (verruga genital) e 3.063 de úlcera genital. Não houve distinção de classe social, escolaridade ou raça entre os perfis dos entrevistados.
Apesar dos dados serem confiáveis, os especialistas consideram que o número seja substancialmente maior. Isso porque uma parcela dos infectados com alguma IST muitas vezes nem sabe que tem uma doença, então, o caso nem é registrado.
Neste cenário, os casos não notificados são um risco ainda maior, pois significam um sério risco de morte para a pessoa infectada, além de disseminação da IST entre outras pessoas.
Ou seja, caso a pessoa desinformada sobre seu quadro clínico mantenha relações desprotegidas, acabará transmitindo vírus ou bactérias para outras pessoas.
Justificando a irresponsabilidade
Quando se vai mais a fundo no perfil dos entrevistados para entender o que pode estar contribuindo com o aumento de registros de ISTs, o fator confiança pesa sobre vários casos.
Afinal, a queda na utilização da camisinha também está relacionada ao nível de confiança entre os parceiros. No começo das relações, o uso do preservativo é natural, mas conforme a relação se estabiliza, seu uso fica de lado. Porém, pesquisas recentes já mostraram que 8 em cada 10 pessoas já traíram seus parceiros em relacionamentos românticos.
Outro fator também são as relações com pessoas de “confiança” ou com quem já se tem um contato prévio. Nesse cenário, os parceiros também costumam abrir mão do uso do preservativo, focando somente na questão contraceptiva do encontro sexual e esquecendo dos riscos de ISTs.
Falar sobre ISTs é um assunto necessário
O sociólogo Roberto Geraldo da Silva, presidente da Associação Esperança e Vida, que trata e abriga paciente com Aids, observa que o comportamento da sociedade e a linguagem a respeito das ISTs mudaram.
Simples campanhas de incentivo ao uso da camisinha e testagem não têm a mesma aderência que antes. Ainda assim, o sociólogo aponta que a informação ainda é o melhor caminho. Com uma abordagem de educação sexual nas escolas pautada na valorização da vida, dos resultados da camisinha e dos impactos das doenças, é possível mudar a realidade.
A redução do uso da camisinha entre a população mais jovem, segundo Valéria Paes (consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia) vem do desconhecimento das consequências a longo prazo dos casos não tratados. Com isso, os jovens acabam se arriscando mais. Para Paes, é necessário modernizar a abordagem e disseminar as informações.
Educação sexual ainda é tabu para brasileiros
Para os jovens, ainda não é naturalizado falar sobre educação sexual em casa. Então, eles acabam procurando e compartilhando informações entre amigos ou online. Sem uma orientação consistente, ações preventivas entre os jovens podem ser negligenciadas.
Pelo embaraço do tabu, a população jovem não recebe as informações necessárias para prevenção das ISTs. Fator que resulta num risco ainda maior de prática do sexo desprotegido.
O tabu também contribui no atraso do diagnóstico e no tratamento dessas infecções. Como consequência, a disseminação de ISTs também encontra mais espaço.
Novos medicamentos no mercado
Leandro Mena, diretor da divisão de IST dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças nos Estados Unidos, diz que “há motivos para ter esperança”. Uma vez que pesquisas mostram um sucesso na redução de novas infecções por HIV e herpes e o avanço da tecnologia está facilitando a triagem e o tratamento.
Mena compartilha que novos medicamentos estão se mostrando promissores em testes que pretendem reduzir o risco de gonorreia, clamídia e sífilis, quando ingeridos em até 72 horas após do ato sexual. Além disso, testes em casa estão se tornando mais acessíveis e vacinas para ISTs bacterianas estão sendo desenvolvidas.
Contudo, ainda é melhor prevenir do que remediar, não é verdade? Para isso, as melhores práticas continuam sendo o uso do preservativo (masculino ou feminino, à sua preferência) e buscar por informações com fontes qualificadas!