Gigantes do mangá apostam no Google Analytics para reivindicar quantia MILIONÁRIA por pirataria
Editoras japonesas buscam milhões de dólares de indenização por danos causados pela pirataria. Confira como elas rastreiam os dados.
As poderosas editoras japonesas de mangá Kadokawa, Shogakukan e Shueisha esperam reaver milhões de dólares em danos causados pelo Mangamura, que já foi o maior site de pirataria de mangá do país.
Nesta semana, para ajudar em sua batalha legal no Japão, os editores foram a um tribunal federal dos EUA, solicitando estatísticas de tráfego e dados pessoais das contas do site no Google e no Cloudflare.
Apesar da crescente disponibilidade de opções legais a serem aplicadas, a pirataria on-line continua sem freios ao redor do mundo. No Japão, os quadrinhos de mangá são uma categoria particularmente popular nos sites de busca e aplicativos.
Os editores estão tentando lidar com esse problema intensificando investigações e usando a seu favor todo tipo de ferramenta que possa reverter os danos. Recentemente, isso levou a um grande sucesso quando uma investigação da Cloudflare ajudou a fechar o 13DL, o antigo maior site pirata do Japão.
Por sua vez, Mangamura era um site novo, criado apenas há cerca de dois anos. No entanto, de acordo com o grupo japonês antipirataria CODA, ele conseguiu causar mais de US$ 2 bilhões em danos à indústria local de mangá.
O dono do site, Romi Hoshino, foi responsabilizado e acabou se declarando culpado em um processo criminal. Em 2021, o Tribunal Distrital de Fukuoka condenou Hoshino a três anos de prisão e aplicou mais US$ 650 mil em multas.
Apesar de essa sentença ter sido proveniente de suas ações investigativas e ter como base as leis, parece que os editores ainda não terminaram a missão deles. Entenda melhor a seguir.
Editoras exigem milhões em danos por pirataria
Em meados do ano passado, as editoras de mangá Kadokawa, Shogakukan e Shueisha entraram com uma ação civil contra o ex-dono do Mangamura. Juntas, as empresas pediram 1,9 bilhão de ienes por danos causados pelas ações do site, o que dá quase US$ 14 milhões (ou R$ 68 milhões).
De acordo com a denúncia, Mangamura teve cerca de 100 milhões de visitas mensais em seus períodos de pico. Isso provavelmente o tornou um dos maiores sites piratas da história, com Hoshino, agora com 31 anos, como o principal réu.
“As visitas mensais subiram para 100.000.000 e, com base no cálculo [do CODA], o valor dos danos foi estimado em aproximadamente 320.000.000.000 ienes. Devido à grande escala da infração, ela foi reconhecida como um problema social e nomeada como o ‘pior site de pirataria da história’”, diz o relator da denúncia.
Embora esse processo ocorra majoritariamente em solo japonês, nesta semana, os editores de mangá compareceram a um tribunal federal da Califórnia, nos Estados Unidos, onde solicitaram intimação para obter informações vitais do Google e Cloudflare.
A importância dos dados do Google e da Cloudflare
Os editores acreditam que os dados das empresas norte-americanas possam ajudar a substanciar suas reivindicações. Na denúncia, implicam que Mangamura supostamente usou os serviços das empresas de tecnologia estadunidenses como parte de suas operações diárias.
Isso inclui, por exemplo, dados do Google Analytics para fazer backup dos números de visitantes. Utilizando essa mesma ação, a Cloudflare também pode ter estatísticas de tráfego e ambas as empresas devem ser capazes de conectar a operação de Mangamura ao réu principal.
“Em apoio às reivindicações dos Requerentes na Ação Judicial, informações adicionais seriam necessárias para verificar (a) a precisão do cálculo de seus danos reivindicados na Ação Judicial e (b) as informações de identificação relacionadas a Mangamura para mostrar a conexão entre Mangamura e Hoshino”, diz o pedido de intimação.
“O número de acessos a cada um dos sites infratores e as informações de identificação relacionadas ao Mangamura seriam essenciais no processo”, acrescentam os editores.
Eles ainda afirmam que o Google e a Cloudflare são as únicas partes que podem fornecer os dados necessários para que sejam provados os termos abordados.
O pedido foi protocolado na Justiça no dia 6 de junho de 2023 e ainda não foi assinado. Além do domínio principal, mangamura.org, está listado o menos usado manga-mura.net. Os domínios supostamente tinham diferentes IDs do Google Analytics.
Servindo como mensagem
Legalmente, não se sabe ainda se tanto o Google quanto o Cloudflare podem fornecer as informações solicitadas – muito menos se escolherão ajudar o processo nesse quesito. Em qualquer caso, os editores estão determinados a responsabilizar financeiramente o dono do site extinto pelos danos sofridos.
A denúncia japonesa menciona que Romi Hoshino provavelmente teve ajuda de colaboradores, mas nenhum outro nome foi listado. O Tribunal Distrital de Tóquio multou anteriormente duas empresas de publicidade por colocarem anúncios no Mangamura, embora nenhuma delas apareça no processo civil dos editores.
Apesar do fato de haver apenas um alvo no processo japonês, os editores esperam que sua ação legal acabe fazendo com que outros proprietários de sites piratas repensem suas ações.
“Esperamos que o processo seja transmitido às operadoras de todo o mundo e as impeça de piratear”, disse anteriormente o chefe de relações públicas da Shueisha, Atsushi Ito.