A DC Comics e Marvel protagonizam uma “guerra” há anos no posto de maior editora de histórias em quadrinhos. Aliás, quadrinhos apenas não, pois os personagens nasceram nas revistas, mas alcançaram outras centenas de produtos e tipos de mídia.
Obviamente que o sucesso dos personagens levou-os para os cinemas. Já faz algumas décadas que os super-heróis lotam as salas de cinema, mas é inegável que este século tem sido especial para os fãs de quadrinhos.
Nesse tempo vimos filmes bons e ruins, como em qualquer outro gênero. Faz parte da história do cinema. E na nova etapa dos super-heróis, a Marvel vem tendo vantagem. Conseguiu criar um universo estendido, com ligações coesas e consolidou uma base de fãs (e consumidores) fieis. Já a DC Comics ainda patina…
Não dá para apontar exatamente qual é o problema atual da DC Comics nos cinemas, já que seus heróis foram protagonistas de filmes considerados verdadeiros clássicos da sétima arte, como o primeiro filme do Superman, o Batman de 1989 e a trilogia do Cavaleiro das Trevas.
Talvez o problema seja a tentativa de “copiar” a Marvel, ou seja, tentar estabelecer um mundo em que todos os super-heróis da editora coexistam. Parece que o universo DC Comics nunca foi pensado nesse sentido. E nesse ponto nem é para levar em consideração as várias versões de um mesmo herói, mas sim que os filmes praticamente não conversam entre eles.
A exceção de “Batman vs Superman” e “Liga da Justiça” que parecem, de fato, continuações, fica difícil crer que o filme da Mulher Maravilha exista no mesmo universo que o Aquaman, por exemplo. As menções, se existirem, são muito tênues e passam despercebidas. Diferente da fórmula Marvel, onde um filme pode não citar o outro nominalmente, mas alguns elementos sempre remetem aos outros filmes.
Outra coisa que não tem ajudado são as diferentes versões e tentativas de estabelecer uma linha. A trilogia do Batman do Christopher Nolan foi magnífica. A DC Comics (e a Warner) viu que tinha uma mina de ouro nas mãos e resolveu, finalmente, criar o seu universo cinematográfico.
Só que a DC Comics já quis iniciar de maneira ousada. Por mais que a “Liga da Justiça” pudesse ser considerada uma aposta segura (sobretudo graças ao Batman, Superman e Mulher Maravilha), o filme do “Esquadrão Suicida” era uma aposta arriscada, visto que a maior parte do público não conhecia os personagens e a história.
É verdade que deu certo com os “Guardiões da Galáxia”, mas a Marvel só lançou o filme depois de seu universo ser estabelecido. O resultado nós sabemos qual foi…
A DC também parece ter um problema com suas continuações. “Mulher Maravilha 1984” não fez jus ao primeiro filme da maior heroína do mundo.
O possível segundo filme da Liga da Justiça nunca saiu do papel e, até mesmo, a continuação do Superman parece ter ficado em um roteiro esquecido em alguma gaveta. Resta esperar se o segundo filme do Aquaman será tão bom quanto foi o primeiro.
Também não ajuda a DC Comics o fato de que seus heróis e vilões têm várias versões e nenhuma é, necessariamente, continuidade da outra. A Arlequina, por exemplo, é interpretada pela mesma atriz em três filmes diferentes. E nenhuma delas parece ser a mesma. A Arlequina dessa segunda versão do “Esquadrão Suicida” até parece ter alguma consciência de que já esteve em outros filmes (uma tentativa de quebrar a quarta parede talvez), mas isso não passa de algumas falas e diálogos.
Aliás, esse fato de que os dois filmes do “Esquadrão Suicida” não se complementam é outro ponto que dá nó na cabeça dos espectadores. Como convencê-los de que os atores que interpretam os mesmos papéis não estão continuando seus personagens. Sem contar que o segundo filme do grupo de vilões é tão ruim quanto o primeiro (talvez até mais).
A DC Comics já se deu conta de que precisa reiniciar o seu universo. Mas ao invés de “apagar” os filmes existentes até agora, quer usar o filme do Flash para fazer isso. Será mais um grande erro. Para trabalhar com o multiverso, é preciso ter UM universo consolidado.
No vindouro filme do velocista, existirão duas versões do Batman, a do Ben Affleck e a do Michael Keaton, como explicar isso? A saída fácil: eles serão de universos diferentes. Está certo, então quer dizer que ao invés de dois Coringas existem três (Jack Nicholson, Jared Leto e Joaquin Phoenix)? E onde entrará o Batman do Robert Pattinson?
O leitor de quadrinhos fiel saberá diferenciar. Mas o cinema é maior do que o mundo das revistas. O público também é outro.
E esse é o maior erro da DC Comics: não respeitar os seus diversos públicos.
Infelizmente, seguindo por esse caminho, o universo estendido da DC nunca será um sucesso de fato. Não tem como ter coesão se a cada novo lançamento, você tem que esquecer o que passou ou fingir que nada aconteceu. O melhor será assistir cada filme como uma obra única, sem continuações.