Dilema nos estúdios: por que musicais continuam assustando Hollywood?
A combinação entre música, dança e uma narrativa única quase sempre é uma aposta arriscada, o que gera dúvidas sobre o potencial de bilheteria de musicais e aceitação do público.
Nada assusta mais Hollywood do que os musicais. Esse gênero, símbolo do cinema americano, está presente desde os primórdios da indústria cinematográfica.
Sem as músicas, danças e histórias “bobas”, não teríamos os filmes que conhecemos hoje.
No entanto, mesmo quando um filme é baseado em musicais da Broadway, que normalmente fazem bastante sucesso entre o público, os estúdios parecem ter um medo inexplicável desse gênero.
Hollywood e musicais: uma relação de altos e baixos
Produções recentes, como ‘Meninas Malvadas’, ‘Wicked’ e ‘Wonka’, causaram controvérsias entre fãs de musicais e outros espectadores devido a seus teasers e trailers.
Apesar de suas grandes produções, orçamentos gigantescos e intensa publicidade, esses filmes falharam em reconhecer uma coisa importante: eles são musicais.
Nenhum dos três trailers apresenta canções, embora sejam filmes musicais, o que acabou irritando aqueles que não apreciam o gênero.
Muitas das pessoas que viram os trailers esperavam um filme mais “sério” ao assisti-lo no cinema, mas foram surpreendidas por uma falsa propaganda.
Casos como esses evidenciam cada vez mais essa incessante tentativa de Hollywood de tentar ocultar a natureza musical de suas produções desse tipo.
Qual é a definição de um musical?
Apesar dos desafios, os musicais contam histórias criativas e emocionantes que podem resultar em produções inovadoras e memoráveis – Imagem: Montagem Multiverso Notícias
A Era Dourada dos musicais, também conhecida como Era do Som, ocorreu entre as décadas de 1930 e 1950 em Hollywood, quando a maioria dos filmes lançados na época era do gênero musical.
Surgindo inicialmente na década de 1920, esses filmes proporcionavam um alívio para uma sociedade lidando com questões financeiras, conflitos armados e desafios sociais característicos da sociedade americana do início do século XX.
Os musicais são caracterizados por contar histórias em que as canções dos personagens são integradas à narrativa, muitas vezes acompanhadas de dança.
Essas músicas normalmente impulsionam a trama ou desenvolvem os personagens do filme, embora em alguns casos sirvam apenas como pausas na história.
Os filmes que exploravam histórias de romance ou eram tipicamente mais “felizes” proporcionavam um alívio para a sociedade americana.
Clássicos como ‘O Som da Música’, ‘Grease’, ‘O Mágico de Oz’, entre outros, lançaram grandes nomes do cinema, como Judy Garland e Julie Andrews.
Musicais no século 21
Com o passar do tempo, o gênero musical foi perdendo popularidade à medida que a sociedade americana e o mundo passaram por transformações.
Após a Segunda Guerra Mundial, Hollywood continuou a produzir musicais, mas também passou a focar em criar histórias mais substanciais, sem canções e números musicais.
No entanto, o gênero sempre manteve sua presença, seja por meio de adaptações de peças da Broadway ou do West End, seja com histórias originais, como, por exemplo, ‘O Rei do Show’ e ‘Em Um Bairro de Nova York’.
Contudo, sabemos que, desde o início do cinema, uma empresa é líder quando o assunto são musicais.
Muitas das apresentações e canções mais memoráveis e populares estão presentes nos filmes da Disney, que incluem números musicais desde ‘A Branca de Neve e os Sete Anões’, lançado em 1937.
Desde então, a Disney tem sido uma potência nesse gênero, lançando clássicos de contos de fadas com números musicais que muitas vezes envolvem coreografias elaboradas e marcantes.
O desafio enfrentado pelo gênero em 2020
Assim como qualquer gênero de filme, os musicais têm seus fãs e aqueles que simplesmente não gostam.
Se você já ouviu alguém dizer: “Mas não faz sentido eles saírem cantando e dançando, isso não é real”, é interessante notar que, afinal, super-heróis, carros fazendo manobras impossíveis e histórias de espionagem também não são reais.
Talvez essas mesmas pessoas sejam aquelas que preferem os filmes antigos da Disney, argumentando que os filmes ‘de hoje em dia’ não são iguais.
De qualquer forma, os musicais lançados recentemente têm enfrentado desafios em relação à sua divulgação pelos estúdios.
‘Meninas Malvadas’, por exemplo, foi divulgado como uma nova versão do clássico filme de 2001, com um elenco e uma história atualizados para atrair o público jovem atual.
No entanto, a realidade é que o filme foi baseado no musical da Broadway, algo que não foi revelado em nenhum momento no trailer, nem por meio de diálogos escritos ou de personagens cantando.
Tomando como exemplo o filme ‘Os Miseráveis’ de 2012, o trailer deixou claro que se tratava de uma adaptação da versão musical da história de Victor Hugo.
Nele, vimos Anne Hathaway cantando, assim como foram incluídas diferentes canções.
Trailers de filmes como ‘O Rei do Show’ e ‘Em Um Bairro de Nova York’ também seguiram essa abordagem. Mas por que os trailers lançados em 2023 e 2024 não seguiram esse padrão?
Seja para atrair novos fãs de maneira questionável ou simplesmente para enganar o público e garantir a venda de ingressos, Hollywood parece receosa em promover seus filmes da forma correta.
Essa abordagem gerou uma tendência na qual os espectadores são instigados a comprar ingressos, seja para criticar ou elogiar o filme após a exibição.
Como resultado, o gênero, que já era malvisto por alguns, passa a ser totalmente desacreditado pelo público, o que pode afastar até mesmo aqueles que ainda estavam interessados na adaptação.
Por outro lado, todas as tendências são cíclicas, então podemos eventualmente esperar que os musicais voltem a ser populares aos olhos do público em geral.
Dessa forma, o gênero poderá retornar às premiações como o Oscar e ser mais amado e respeitado.