Existe GRANDE desvantagem em aumentar a expectativa de vida; entenda por quê

Questões éticas e de equidade de acesso pesam sobre a discussão.

A discussão sobre longevidade e mortalidade existe na humanidade desde a antiguidade. Filósofos, religiosos, poetas, cientistas e médicos já se debruçaram sobre a reflexão de aumentar a expectativa de vida, ou até mesmo viver para sempre.

Histórias e mitos foram criados sobre essa questão. Os vampiros, por exemplo, são seres que conseguem praticamente viver para sempre, mas com um preço: beber sangue humano. No fim, as próprias histórias refletem sobre a questão. Então, realmente valeria a pena?

Hoje o que não falta são procedimentos e produtos anti-idade que garantem a preservação de uma aparência jovem. Mas isso não significa que esses procedimentos consigam prolongar nosso tempo de vida.

Multimilionários já têm investido milhões em várias pesquisas que tencionam prolongar a expectativa de vida. O diretor-executivo da OpenAI, Sam Altman, por exemplo, investiu mais de U$$ 150 milhões na Retro Biosciences, empresa que pesquisa como prolongar a vida humana em dez anos saudáveis.

A forma como a empresa pretende alcançar esse feito é pelo “rejuvenescimento” do sangue. A pesquisa tem como base estudos com ratos velhos que mostraram sinais de inversão de envelhecimento quando receberam o sangue de ratos mais jovens.

Essas pesquisam visam a chegar perto da noção que Yuval Harari fala sobre “amortalidade“. Não viveríamos para sempre, mas decidiríamos quanto tempo continuaríamos vivendo.

Mas a questão é: vale realmente a pena ser “amortal”? Existe um tanto que meça “viver demais”? As tecnologias funcionariam? Se prolongar a expectativa de vida for possível, ela será ética? O debate dessa questão traz posicionamentos de esperança e pessimismo.

Refletindo sobre aumentar a expectativa de vida

Uma das primeiras perguntas que surgem é: vale a pena aumentar a expectativa de vida se morreremos de qualquer forma? Pensadores consideram que prolongar a vida é só retardar o inevitável: a morte.

Cientistas como Aubrey de Grey discutem que mesmo as intervenções que influenciam a expectativa de vida em curto prazo já ajudariam as pessoas a conseguirem aumentar mais uns séculos de vida.

Pelo menos, as pessoas continuariam vivas até a próxima descoberta científica, que aumentaria sua expectativa de vida um pouco mais.

Por outro lado, filósofos como Bernard Williams questionam aumentar a expectativa de vida sob a perspectiva de que a vida só é valiosa pelo que ele chama de “desejos categóricos”. Ou seja, desejar algo é o que nos dá motivações para viver.

Sob a perspectiva de William, se a vida se tornar muito longa, em algum momento deixaremos de ter motivos para viver. Uma vez que a vida será longa o suficiente para conquistar e realizar todas as coisas e a vida se tornaria tediosa.

Mas autores como Christopher Belshaw argumentam que os “desejos categóricos” para viver evoluem e se adaptam ao longo da vida. Então, ter motivos e desejos pelos quais viver não se esgotariam caso a vida fosse mais longa.

Além do mais, ter 20 ou 50 anos a mais para terminar de escrever aquele livro, ou finalmente começar a pegar firme na academia não seria ruim.

Por fim, uma questão que preocupa todos que se debruçam sobre a questão de aumentar a expectativa de vida é: as tecnologias para a longevidade serão acessíveis de forma igualitária?

Uma coisa é certa. Assim como a última versão do iPhone, essas tecnologias na sua estreia serão caras. E pareceria injusto que os bilionários do Vale do Silício comemorassem seus 150º aniversários enquanto o restante da população estivesse morrendo aos 70 – 80 anos (filme com Justin Timberlake, “O Preço do Amanhã” retrata bem esse dilema).

Então, como desenvolver tecnologias para a longevidade das pessoas sem que ela seja discriminatória e sem parar totalmente o avanço por conta desse dilema?

O ‘X’ da questão

Finalmente, existe uma objeção ética grave que se aplica a casos extremos de considerar aumentar a expectativa de vida. Estagnação social, ou seja, o nível de adaptação da população seria reduzido caso vivêssemos vidas muito longas.

Qualquer aumento na expectativa de vida geraria um boom populacional. E para evitar um problema de superpopulação, seria necessário reduzir os índices de natalidade. Isso causaria um impacto muito sério na renovação geracional.

O pesquisador Chris Gyngell realizou uma pesquisa que pontua como essa mudança poderia ser muito prejudicial para o progresso social. Uma vez que nos tornaria mais suscetíveis à extinção, prejudicaria o bem-estar individual e impediria o avanço moral.

Muitos campos sociais se beneficiaram do influxo de mentes mais novas continuando ou quebrando paradigmas de gerações anteriores. Na questão da escravidão e dos direitos das mulheres, por exemplo.

Essa paralisia social aconteceria por conta do “viés de confirmação”, uma tendência a procurar e interpretar informações de forma que confirme suas crenças prévias. Isso teria um impacto muito sério nas teorias científicas também.

Então, retardar a renovação geracional poderia atrasar os ciclos de reconhecimento e reparação de nossas próprias catástrofes éticas e morais. Especialmente aquelas que não podemos ver por fazerem parte de costumes da nossa geração.

E você, caro leitor, qual seu posicionamento sobre esse dilema? Qual questão você acredita que ficou fora? Conte nos comentários.

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