Brilho mortal: saiba como o glitter está deixando a vida marinha à beira do colapso

Um dos acessórios obrigatórios no carnaval, o glitter até pode ser divertido e bonito. Porém, sua presença nos oceanos é muito maléfica para o meio ambiente.

O fascínio pelo brilho e a beleza estonteante das partículas reluzentes de glitter têm um custo oculto que, por muito tempo, escapou ao olhar do público.

Mas o que parece inofensivo em fantasias de carnaval, maquiagens deslumbrantes e enfeites festivos está revelando um lado sombrio que ameaça a vida marinha e, por extensão, a nossa própria saúde.

Microplásticos disfarçados de brilho

Ao escavar um pouco mais além do esplendor superficial, descobrimos que o glitter comum é, na verdade, composto por microplásticos não biodegradáveis.

Essas diminutas partículas plásticas, que passam despercebidas pelos filtros de tratamento de águas residuais devido ao seu tamanho, têm se acumulado nos rios, mares e oceanos em proporções alarmantes.

Imagem: Criativity 103/Flickr/Reprodução

Pesquisadores do Centro de Energia Nuclear na Agricultura da Universidade de São Paulo, em colaboração com a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, realizaram um estudo impactante que demonstra como o glitter está afetando as cianobactérias.

Também conhecidas como algas verde-azuladas, as cianobactérias desempenham um papel vital nos ecossistemas aquáticos, executando processos biogeoquímicos que sustentam a saúde dos corpos d’água.

Um estudo revelador

Durante um período de 21 dias, as cianobactérias foram expostas a diferentes concentrações de purpurina, permitindo que os cientistas observassem os efeitos desse brilho aparentemente inofensivo.

As conclusões foram alarmantes: as cianobactérias sofreram danos significativos, incluindo redução na taxa de crescimento celular e aumento no volume biocelular. Este último dano compromete a capacidade das cianobactérias de responder ao estresse e de realizar a fotossíntese essencial para sua sobrevivência.

A interrupção do processo de obtenção de energia das cianobactérias tem implicações que se estendem muito além das profundezas dos oceanos. O equilíbrio frágil dos ecossistemas aquáticos está intrinsecamente ligado à saúde de todas as formas de vida que deles dependem.

Animais marinhos maiores, organismos que estão na base da cadeia alimentar e até mesmo os seres humanos, de forma indireta, enfrentam os riscos decorrentes da poluição marinha.

Além disso, o problema das micropartículas plásticas na água não é isolado. O impacto de nosso descuido ambiental já é visível há décadas na extinção de espécies marinhas, no colapso de recifes de corais, na redução da pesca e na ameaça à oferta de água doce.

Outro fator alarmante é a presença de microplásticos no interior de organismos humanos, afetando a capacidade de transporte de oxigênio no sangue e levantando sérias questões sobre nossa saúde.

Uma chamada à ação

A revelação de que o brilho está destruindo nossos ecossistemas marinhos e impactando nossa saúde deve nos incentivar a repensar nossos hábitos e escolhas. A conscientização sobre os efeitos nocivos do glitter e de outros produtos plásticos não biodegradáveis é o primeiro passo para mudar essa trajetória sombria.

À medida que testemunhamos o brilho ofuscante ceder lugar a uma realidade mais obscura, devemos agir coletivamente para proteger os oceanos e, por consequência, a vida na Terra.

você pode gostar também