Perigo silencioso: doença fatal está relacionada ao uso de cigarros eletrônicos

O uso dos vapes entre os jovens levanta o alerta para a EVALI.

Uma recente pesquisa nacional de saúde escolar revelou um dado alarmante: em média, 16,8% dos jovens entre 13 e 17 anos já experimentaram cigarros eletrônicos, conhecidos como vapes.

Essa estatística nos faz refletir sobre o impacto dessa tendência e as possíveis consequências para a saúde pública caso esses adolescentes se tornem usuários habituais desses produtos.

Diferentemente das gerações anteriores, expostas aos cigarros tradicionais, as novas gerações de crianças e adolescentes têm demonstrado maior vulnerabilidade ao uso dos cigarros eletrônicos. Atualmente, em eventos voltados para o público jovem, é quase impossível não se deparar com uma variedade de cigarros eletrônicos.

É importante destacar que, além de prejudiciais à saúde — que é o foco de nossa discussão hoje —, o uso desses dispositivos é proibido em nosso país. Todos os cigarros eletrônicos utilizados no Brasil são adquiridos ilegalmente.

Aqueles que comercializam esses produtos estão cometendo uma série de crimes, incluindo propaganda ilegal, sonegação de impostos e infrações sanitárias.

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Imagem: Olhar Digital

EVALI: ‘doença do vape’

EVALI é a sigla para “E-cigarette and Vaping-Associated Lung Injury” (lesão pulmonar associada ao uso de cigarros eletrônicos e vapes). Essa é uma nova condição clínica identificada em usuários desses dispositivos.

Mas, afinal, fumar vape faz mal? A resposta é sim, e entenderemos a razão.

Essa é uma doença de difícil diagnóstico, que requer a exclusão de outras condições clínicas. Não existem testes laboratoriais específicos nem marcadores diagnósticos definitivos para essa doença. Além disso, os sinais e os sintomas são semelhantes aos de diversas doenças respiratórias, como a influenza.

A suspeita de EVALI surge principalmente quando há histórico de uso de vapes e cigarros eletrônicos na anamnese do paciente.

Principais sintomas:

  • Dispneia
  • Tosse
  • Dor torácica
  • Febre
  • Calafrios
  • Diarreia
  • Náuseas
  • Vômitos
  • Dor abdominal
  • Taquicardia.

Até o momento, a causa exata da EVALI não é conhecida. No entanto, foi identificado que o acetato de vitamina E, um dos aditivos químicos presentes em alguns produtos, pode ser uma possível causa.

Um estudo publicado em 2020 no New England Journal of Medicine analisou amostras de lavado broncoalveolar de 51 pacientes e encontrou vitamina E em 48 delas.

É importante ressaltar que o uso de vapes também pode agravar diversas doenças pulmonares crônicas, como a asma, levando a internações e aumentando a morbimortalidade associada a essas condições.

Nos Estados Unidos, a maioria dos casos hospitalizados e óbitos relacionados ao EVALI ocorreram em pacientes que utilizavam substâncias contendo THC, a maconha líquida.

Tratamento para a ‘doença do vape’

O tratamento consiste em fornecer suporte médico conforme a necessidade de cada paciente, podendo variar entre tratamento ambulatorial e internação hospitalar.

O tratamento ambulatorial é indicado para casos em que o paciente apresenta estabilidade clínica, com saturação acima de 95% em ar ambiente, ausência de dispneia grave e comorbidades ou doenças pulmonares pré-existentes.

No entanto, o tratamento ambulatorial requer monitoramento frequente de 24 a 48 horas.

Já a internação hospitalar é recomendada para casos em que ocorre queda do estado geral, redução da saturação, presença de coinfecção viral ou bacteriana e exacerbação de doenças de base.

Embora os corticosteroides tenham demonstrado redução no tempo de internação e melhora na recuperação, ainda são necessários mais estudos para avaliar sua eficácia.

O CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças) disponibiliza um algoritmo de tratamento proposto para a EVALI.

Uso de vapes no Brasil

A comercialização, a importação e a propaganda de todos os tipos de dispositivos eletrônicos para fumar são proibidas no Brasil desde 2009, conforme a RDC n. 46, de 28 de agosto.

Em julho de 2022, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) aprovou por unanimidade um relatório que manteve a proibição, a importação e a propaganda desses dispositivos eletrônicos para fumar.

Além da proibição, foram adotadas medidas para reduzir a oferta e a demanda por esses produtos, incluindo ações de fiscalização em conjunto com outros órgãos e campanhas educativas.

O Instituto Nacional de Câncer (INCA) também expressou sua posição sobre o uso desses dispositivos:

“Os dispositivos eletrônicos não são eficazes nem seguros para o consumo humano. Estudos têm demonstrado que esses dispositivos eletrônicos atraem crianças, adolescentes e jovens para o consumo de nicotina, tornando-os dependentes dessa substância”, afirmou Liz Maria de Almeida, representante do INCA.

A preocupação com o uso de cigarros eletrônicos entre os adolescentes é válida e exige ações para evitar o agravamento dos riscos à saúde pública.

A conscientização sobre os perigos associados ao vape e a implementação de políticas restritivas são essenciais para proteger as futuras gerações dos danos causados por esses dispositivos.

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