Fim do chocolate? Por que alguns alimentos correm risco de extinção?
Dos milhos mexicanos ao cacau venezuelano, diversos alimentos correm risco de extinção. Entenda o motivo.
Com tantos chocolates nas prateleiras dos supermercados, é difícil de acreditar que possam desaparecer. Mas, em seu livro “Eating to Extinction” (“Comendo até a Extinção”), o jornalista da BBC, Dan Saladino, relata que alguns alimentos estão em risco de extinção.
Não apenas isso, mas perda culturais regionais significativas também estão ligadas a esse fenômeno. Saldino observa que os alimentos são mais do que fonte de nutrientes, sendo que eles são também objeto da:
“[…] invenção, imaginação e sabedoria de centenas de gerações de agricultores e cozinheiros.”
Assim como a humanidade procurou por melhoras e adaptações sociais, nossos ancestrais também aplicaram essa mesma base no melhoramento e na adaptação de alguns frutos da terra que se tornaram comestíveis ao longo de milhares de anos.
Mas, depois da Revolução Verde, toda a diversidade que havia sido conquistada está se perdendo muito rapidamente, assim como os saberes e costumes das comunidades que cultivam e preparam esses alimentos.
Número de alimentos em risco de extinção é elevado
De acordo com a Ark of Taste (“Arca dos Sabores”), uma iniciativa como “Arca de Noé” dos alimentos ameaçados, criada pela fundação Slow Food, hoje, mais de 5,5 mil alimentos estão em risco de extinção em cerca de 150 países.
E o mais alarmante para nós, latino-americanos, é que essa lista inclui muitos países nas Américas.
Cenário mundial
Existem iniciativas que fazem frente a esse processo. Uma delas é o banco de sementes de Svalbard, no Ártico da Noruega. Lá há milhares de amostras de arroz, milho e muitas outras plantas comestíveis.
Para se ter uma ideia, o banco tem mais de 200 mil amostras de trigo. Porém, a iniciativa deixa ainda mais evidente o problema da produção alimentar mundial. Isso porque agricultores europeus trabalham somente com uma lista de dez variedades de trigo, que são muito semelhantes geneticamente.
Além disso, o mundo tem se tornado dependente de uma quantidade relativamente pequena de alimentos. Há cerca de nove culturas principais consumidas globalmente, mas, desse total, 50% das calorias diárias das pessoas são fornecidas por apenas três: trigo, arroz e milho.
É possível argumentar que quem tem certo poder de compra ainda consegue usufruir de uma variedade de alimentos que vem de todo o mundo e estão nos hortifrútis dos mercados.
No entanto, as pessoas do mundo todo estão comendo sempre as mesmas coisas o ano inteiro globalmente. Por exemplo, as pessoas comem o mesmo tipo de banana no mundo todo, apesar de existirem 2 mil variedades de banana.
Voltando ao livro de Saladino, ele comenta sobre a perda de variedades de milho devido ao Tratado Norte-Americano de Livre Comércio (Nafta, em inglês), sobretudo porque sua agenda exclui pequenos agricultores ou alimentos nativos.
Ele usa o caso da entrada do milho dent maize, dos Estados Unidos, que impactou de forma devastadora a diversidade do milho no México.
Outro exemplo é o cacau criollo venezuelano, que, com a ascensão da indústria do petróleo, perdeu muitos investimentos e essa diversidade genética quase foi perdida.
Por sua vez, enfim, a iniciativa da chef e chocolatier María Fernanda di Giacobbe junto com agricultores locais tem sido fundamental no resgate dessa espécie.