Os Eternos chegaram para ficar. Com 25 filmes já lançados, com um público cativo, algumas das maiores bilheterias da história do cinema e sucessos estrondosos, seria de se esperar
que a Marvel se aquietasse um pouco e ligasse o piloto automático, deixando que a tão falada “fórmula Marvel” ditasse os ritmos do seu universo cinematográfico.
Mas o novo filme da Marvel mostra que o estúdio pode (e deve) apresentar novas ideias, novos conceitos e tirar o espectador da zona de conforto, mostrando que é possível expandir os horizontes do MCU.
O filme dos “Eternos” meio que rasga a cartilha tradicional da Marvel. Sim, ainda tem heróis lutando contra um plano diabólico, uniformes e piadas em alguns momentos. Só que tem também muitos questionamentos sobre as razões pelas quais eles estão lutando.
Aliás, o questionamento parece ser a figura central da película. São muitas perguntas que precisam de respostas, como o motivo pelo qual os Eternos não se intrometeram na luta contra o Thanos. E as respostas são dadas. Se são convincentes ou não, dependerá da experiência de cada um, porém faz todo sentido para o MCU.
Ainda falando dos questionamentos, o filme mostra como os Eternos vão se colocando com o passar do tempo, sempre convivendo com os humanos, ensinando e aprendendo com eles. São revisitados alguns pontos da história e como determinados acontecimentos tiveram um empurrãozinho dos heróis do filme.
Desde o início do filme fica claro que a única regra que os Eternos não podem quebrar é a de intervir em conflitos humanos, ou seja, se os humanos entrarem em guerra uns com os outros, não há nada que eles possam fazer. A ordem dada por Arishem, o Celestial que os criou, é que os Eternos só podem se envolver em conflitos que envolvam os deviantes.
Só que a simbiose que ocorre entre os personagens e os humanos é tão grande que, após determinado tempo, os Eternos começam a indagar se devem ou não intervir. Questões éticas e filosóficas começam a colocar a própria equipe em conflito, já que eles têm poderes para impedir que as guerras acabem ou, melhor ainda, que elas não aconteçam.
Também é possível ver um pouco da religiosidade presente no filme com a crença que eles mantêm no Celestial que o criou. A única que tem uma “linha direta” com este Celestial é Ajak (Salma Hayek), a líder do grupo, que tem a difícil missão de passar as informações de Arishem para o grupo e manter a equipe unida.
É incrível ver como a Marvel trabalhou essas questões filosóficas com clareza, sem enfeitar demais e mostrando que é possível discutir assuntos delicados com leveza. Essa linha filosófica e um pouco religiosa, com personagens discutindo seus dogmas e motivações parece ter encontrado abrigo na Fase 4 do estúdio, pois já deu as caras também nas séries Loki e Wandavision, mostrando que, definitivamente, o MCU está expandindo seus personagens e histórias para lugares novos, em que eles pensam em suas reais motivações.
Ainda que não haja uma divisão explícita, fica claro que o filme está dividido em dois atos. O primeiro é a apresentação dos personagens e a interação com os humanos, com um clima mais leve e festivo. Já no segundo ato, o conflito domina a equipe, o clima é mais pesado e parte para a resolução do filme.
Outro ponto bastante interessante é que os deviantes dão bastante trabalho para a equipe, mas não podem ser considerados como os grandes vilões do filme. Aliás, a discussão sobre qual é o verdadeiro vilão do filme deixará os fãs bastante entretidos, uma vez que cada um poderá ter sua própria visão sobre isso.
A oscarizada diretora Chloé Zhao também conseguiu imprimir o seu estilo ao filme, explorando bem os cenários diversificados, com uma fotografia lindíssima, e dosando o tempo de cada um dos Eternos na tela. Cada um dos personagens tem seu desenvolvimento e motivações mostradas de forma clara e objetiva. É claro que alguns personagens aparecem mais que outros, mas nenhum deles fica subdesenvolvido.
Salma Hayek e Angelina Jolie também estão muito bem no filme. Embora suas personagens não sejam as protagonistas, as duas estrelas emprestam o carisma necessário para as coadjuvantes de luxo darem a sustentação para o filme.
Por fim, duas cenas pós-créditos te fazem lembrar que ainda é uma produção da Marvel e dão o gancho para mostrar que ainda há mais nesse universo. Mas não espere aquele estouro na sua mente, as cenas são sutis, mas necessárias.