No planeta inteiro, El Niño faz disparar preço de produto que todo mundo tem em casa
Com a escalada dos preços do açúcar, padeiros e países mais pobres enfrentam dificuldades enquanto os estoques mundiais diminuem drasticamente. Entenda os impactos desse cenário.
O crescente aumento nos preços do açúcar tem gerado um impacto intenso no comércio global, afetando significativamente comerciantes, consumidores e países, especialmente os pobres.
O custo alto é um verdadeiro desafio para padeiros que encaram dificuldades com produção mais cara, levando ao fechamento de alguns negócios.
O aumento exorbitante
Estimativas apontam que os preços do açúcar aumentaram cerca de 55% nos últimos dois meses, resultando em menor capacidade de produção e lucratividade reduzida para comerciantes.
O cenário é resultado de uma tendência de altos valores no mercado global desde 2011, provocada pela diminuição da oferta mundial.
Isso tem ocorrido devido a condições climáticas adversas que prejudicaram colheitas na Índia e na Tailândia, dois dos maiores exportadores de açúcar do mundo.
Preços do açúcar dispararam por causa do fenômeno climático – Imagem: iStock/Reprodução.
Os reflexos dessa situação se estendem ao comércio de alimentos, especialmente em países em desenvolvimento que já enfrentam escassez de alimentos básicos.
O fenômeno agrava a insegurança alimentar em várias partes do mundo, sendo o El Niño, a guerra na Ucrânia e moedas enfraquecidas alguns dos principais fatores causadores.
Segundo a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO, na sigla em inglês), prevê-se uma queda de 2% na produção global do produto no próximo ano. Isso representa uma perda de 3,5 milhões de toneladas em relação ao ano anterior.
A crescente utilização do açúcar em biocombustíveis, como o etanol, levou as reservas a níveis mais baixos desde 2009.
O El Niño, fenômeno natural que altera os padrões climáticos globais, gera cenários extremos, como secas e enchentes, e tem desempenhado um papel devastador para isso.
Países como a Índia testemunharam severas secas, impactando severamente as colheitas e exacerbando a situação global do açúcar.
Embora o Brasil, maior produtor mundial de açúcar, preveja um aumento de 20% na colheita em relação ao ano passado, o impacto global só será sentido em março de 2024, devido à posição geográfica do país no Hemisfério Sul.
No entanto, o crescimento populacional e o crescimento do consumo de açúcar continuarão a pressionar as reservas do produto.
O mundo atualmente possui menos de 68 dias de estoque de açúcar para atender às demandas, comparado aos 106 dias de estoque em 2020, sinalizando uma diminuição significativa.
Isso tem levado alguns países a enfrentarem dificuldades em importar açúcar mais caro, consumindo suas reservas de moeda estrangeira e potencialmente gerando crises financeiras maiores.
Como o pão é muitas vezes a única fonte de alimento acessível para famílias pobres e é altamente dependente do açúcar, a tendência é que mais pessoas sofram com a fome em um futuro próximo.
Governos podem precisar considerar medidas para aliviar o impacto em comércios, mas o alerta sobre a crise alimentar global já foi emitido.