Intimidade invadida: empresas assumem escutar conversas de celular para direcionar anúncios

Mídia dos Estados Unidos descobre verdadeiro escândalo do setor de marketing. Empresas acessam microfones para escutar conversas.

Aquela sensação de que somos ouvidos o tempo todo e que isso fundamenta propagandas que chegam até nós pelo celular pode não ser tão maluca assim.

Embora alguns considerem esse pensamento uma grande teoria da conspiração, a realidade comprova exatamente o contrário.

A imprensa dos Estados Unidos repercutiu, nos últimos dias, a descoberta de que empresas de marketing confessaram acessar os microfones dos celulares para coletar dados e direcionar anúncios publicitários. E detalhe: tudo isso sem autorização prévia do usuário.

Uma das companhias envolvidas faz parte do Cox Media Group e trabalha na execução desse serviço, chamado “Escuta Ativa”.

Fora ela, representantes de outra empresa, a MindShift, também falaram abertamente sobre o assunto em um podcast.

Foco na tarefa

Cuidado com o que você fala perto do celular, pode estar sendo monitorado – Fonte: Internet/Reprodução

O serviço executado por essas companhias foca na distribuição de anúncios para os chamados “compradores prontos”, aquelas pessoas que falam próximo ao celular sobre algum produto que desejam comprar ou adquirir.

A ação, em tempo real, consiste em promover anúncios e promoções, especialmente em redes sociais como Instagram e Facebook, dos mesmos itens citados pelo proprietário do aparelho.

É impossível não se espantar ao perceber esse mecanismo, na prática. A tecnologia utilizada para isso é mantida em segredo pelas empresas envolvidas.

Nos EUA, as reportagens descobriram, por exemplo, a adesão ao serviço de uma concessionária de carros de luxo, uma locadora de imóveis, uma ONG e uma prestadora de reparos domésticos, ou seja, segmentos diferentes.

Negócios pequenos e grandes

Durante a entrevista ao podcast, os representantes da MindShift explicaram que a tecnologia de reconhecimento de voz seria fornecida por um parceiro antigo. Além disso, a função já é aplicada tanto em negócios pequenos quanto grandes.

O processo é tão personalizado que quem contrata o serviço de divulgação pode determinar o raio de alcance das detecções de voz e da exibição de anúncios.

Existe até um pixel de rastreamento que é adicionado ao site para oferecer métricas de visualização e acesso.

Outro aspecto curioso é que a prática não se restringiria aos celulares. Ela também tem potencial de ser empregada em assistentes inteligentes, como a Alexa, e em televisores. Ou seja: o monitoramento é constante.

Como se proteger

A descoberta, claro, é um grande escândalo, pois evidencia a insegurança e a falta de proteção a dados privados.

No Brasil, por exemplo, a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) proíbe o uso de informações sem a autorização do cidadão.

A possibilidade de escuta remota do que é dito perto de celulares, no entanto, demonstra-se algo assustador, pois resta pouca alternativa de reação ao usuário.

Para se proteger desse tipo de situação, a única saída, muitas vezes, é tirar o aparelho de perto ou desligá-lo. Nos celulares Android e iPhone, é possível controlar o uso do microfone por um aplicativo instalado no aparelho. Vale a pena ficar atento a isso.

Os sistemas costumam emitir notificações quando o recurso é ativado e o usuário recebe alertas quando o microfone está ligado fora dos momentos de uso.

Outra saída é prestar atenção às políticas de privacidade de aparelhos e aplicativos em geral. É importante conhecer as preferências que controlam ou restringem o que é ouvido e armazenado para cada solução. Se você não estiver de acordo ou suspeitar de algo, interrompa a utilização.

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