Falha na Matrix: é possível estarmos vivendo em uma alucinação controlada?
Três décadas de estudos reuniram diferentes campos acadêmicos e indicaram que nós vivemos em uma alucinação controlada.
Em muitos sentidos, ainda há muito a se descobrir sobre a consciência humana. O filósofo David Chalmers, durante a Conferência Inaugural da Ciência da Consciência realizada em 1994, em Tucson, levou uma questão aos cientistas: como é possível que a matéria física objetiva possa resultar em uma experiência inédita e particular da consciência?
O neurocientista Anil Seth reuniu décadas de pesquisas sobre percepção e a realidade humana, e em 2017 mostrou seus resultados em uma palestra no Ted Talks. Em 2021, o neurocientista publicou o livro “Being You”.
O livro traz um questionamento sobre a consciência: ao perceber a fragilidade contida na consciência humana, por vezes, as pessoas podem se assustar ou se sentirem gratas por estarem onde estão.
Foi na época do desafio de Chalmers que Seth aprofundou-se em seus estudos sobre a consciência humana, a fim de entender como é possível a sensação de ser alguém no mundo. Para isso, ele contou com seu amplo conhecimento acadêmico em Computação, Psicologia, Física e Neurociência.
Seth concluiu que o modo que as pessoas enxergam a si e o mundo nada mais é do que uma alucinação controlada. Ele explica que percebemos de maneira passiva tudo que acontece ao nosso redor e, com isso, nossa mente refina previsões daquilo que desejamos enxergar.
Ele exemplificou sua conclusão lembrando de um enigma que surgiu há poucos anos sobre a cor de um vestido. Algumas pessoas o viam na cor dourada, enquanto outras o viam na cor azul.
Além disso, ele usou um áudio de difícil compreensão e, em seguida, citou uma frase. Quando reproduziu novamente o áudio, as pessoas conseguiram entender o que estava sendo dito.
O neurocientista explica que o fato de vivermos em uma alucinação controlada não representa uma falha no funcionamento cerebral, mas sim que o mundo físico não seja da forma como enxergamos; vemos de tal maneira justamente porque desejamos o enxergar assim.
Assim como Platão, com a Teoria das Formas, acreditava que existia uma realidade abstrata dentro da realidade material, Seth acredita que o mundo físico não seja da maneira que pensamos.
Por fim, ele explica que essa conclusão não deve ser considerada como um problema. Invés disso, ele aconselha que o cérebro em si seja entendido para que os problemas sejam solucionados de maneira mais prática.
Seu estudo conclui que a consciência serve para que possamos ser vivos e que é, de certa maneira, uma alucinação. Contudo, Chalmers não se viu satisfeito com a conclusão ao exigir que os mecanismos que a matéria objetiva produz experiências subjetivas fossem de fato explicados.