Comer a mesma comida todos os dias faz mal à saúde?

Além dos riscos à saúde humana, uma dieta uniforme afeta a natureza. Entenda!

Nada mais brasileiro que acordar com um pão e um copinho de café de manhã. E um arroz com feijão e um tomate no almoço, não é mesmo? Aquele sabor tão familiar que não tem erro. Mas será que comer a mesma comida todos os dias não faz mal à saúde?

Porém, antes de continuarmos, é importante ressaltar que esse conteúdo considera o cenário de uma população que tem a mínima possibilidade de fazer escolhas variadas na alimentação. O cenário nacional de insegurança alimentar não é ignorado nesta matéria.

Enfim, quem já foi ao nutricionista em algum momento se lembra de ter voltado para a casa com uma lista de uma rotina alimentar e um cardápio que continha várias opções de porções a serem trocadas. Isso não é por acaso.

Apesar de ser muito confortável comer o que se conhece e que é mais fácil pelo costume ao paladar, isso pode ser um risco à saúde alimentar. Para entendermos, precisamos voltar milhares de anos, quando os seres humanos ainda eram nômades e viviam do que encontravam e do que a natureza produzia em cada estação.

A revolução agrícola por que a humanidade passou na pré-história foi fundamental para que pudéssemos deixar o nomadismo e ter existências mais estáveis. Mas o impacto disso na nossa dieta, para um organismo que havia se habituado à diversidade das estações, é algo que o nosso corpo ainda sente nos dias de hoje.

Sobretudo pelo sistema alimentar homogêneo ao qual a indústria submete as populações que vivem nos grandes centros urbanos. Vamos entender isso melhor.

Riscos da uniformização alimentar para a natureza

Dan Saladino escreveu o livro “Eating to Extinction” (“Comendo até a Extinção”). Nele, o autor nos provoca a refletir que os alimentos são mais que fontes de nutrição, pois são histórias de inovação e sobrevivência aprimoradas por centenas de gerações. Esses alimentos influenciam a identidade e a cultura das populações que os consomem.

Por isso, ele alerta que vários alimentos estão em risco de extinção devido ao nosso atual sistema de produção alimentar altamente intensivo e uniforme. Consequentemente, isso está contribuindo para a destruição do planeta.

Saladino cita uma famosa bióloga americana Rachel Carson, que alerta, no livro “Primavera Silenciosa”, sobre o uso de pesticidas. Algo importante que ela ressalta é como todos os pontos e agentes da natureza estão interconectados.

Carson frisa a necessidade de toda a complexidade da natureza e do problema da ação humana ao tentar simplificar e uniformizar a diversidade e os processos dentro do sistema natural.

Sobretudo porque o sistema alimentar homogêneo, esse no qual se come a mesma comida todos os dias, tem um custo muito algo. Além disso, gera muitas emissões de gases de efeito estufa que influenciam diretamente nas mudanças climáticas.

Saladino também fala sobre as mudanças na agricultura ao longo do século 20, com o aumento dos fertilizantes sintéticos e a implementação das monoculturas extensivas. Então, não é necessariamente uma decisão do consumidor, mas da indústria de reduzir a oferta de biodiversidade.

E por consequência esses sistemas esgotam os solos e aquíferos, contaminam lagos e rios. Até mesmo protagonistas da Revolução Verde, como Norman Borlaug, reconhecem esse impacto e afirmam que é necessário estabelecer novas estratégicas de produção.

No momento, grandes mentes da agricultura e da Ciência estão empenhadas no desenvolvimento de sistemas de produção de alimentos que esteja em harmonia com a natureza, em favor da saúde humana e do planeta.

Então, comer a mesma comida todos os dias faz mal à saúde?

Mas qual é o problema de comer a mesma comida todos os dias? Fabrício Ribeira, nutricionista membro da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso), explica:

“Quando consumimos todos os dias os mesmos alimentos não estamos ofertando ao nosso corpo a diversidade de nutrientes necessária para o funcionamento saudável e adequado do nosso organismo.”

Segundo o nutricionista, a uniformidade alimentar é um risco pela sua baixa qualidade nutricional. Ele dá o seguinte exemplo:

“Se você consumir frango diariamente no almoço ou jantar, é possível que você não tenha todos os benefícios do ômega 3 no organismo, uma vez que apenas os peixes mais gordurosos são fonte do ácido graxo.”

Dessa forma, na medida do possível e do que há disponível, o mais indicado é conseguir variar as opções de alimentos nas refeições todos os dias. Assim, você garante a ingestão de todos os tipos de nutrientes.

Algo que pode ajudar nesse processo é favorecer a escolha de alimentos típicos da sua região e de acordo com a estação em que eles estão mais disponíveis. Por exemplo, a manga é mais abundante entre dezembro e fevereiro.

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