Você come mais quando está estressado? Há uma explicação científica para isso

Cientistas explicam o processo por trás desse mecanismo de compensação.

Quem nunca disse “Ah, hoje vou comer tal coisa porque eu mereço”? depois de um dia estressante? Comer sua comida favorita é a recompensa dos guerreiros mais acessível e prática possível. Mas por que a gente come mais quando está com estresse? Ou até mesmo deixa de comer totalmente? É possível evitar fazer isso?

Algumas pessoas vão direto em comidas supercalóricas quando estão estressadas, outras perdem o apetite e ainda há quem permanece sem nenhuma alteração, não importa o que aconteça.

Kimberly Smith, que estuda comportamento alimentar no Departamento de Psiquiatria e Ciências Comportamentais na Universidade de Mecidina de Baltimore, nos Estados Unidos, tem uma observação sobre esse fenômeno.

Ela sugere que fatores comportamentais, ambientais e genéticos têm um papel fundamental na susceptibilidade de alguém acabar comendo por estresse. Vamos entender esse processo mais a fundo.

Lawrence Cheskin, gastroenterologista da Faculdade de Saúde Pública de George Mason, nos Estados Unidos, aponta que pessoas com dietas restritivas – que limitam o consumo de alimentos para regular o peso – são mais suscetíveis a comer por estresse.

O cérebro de quem come mais quando está com estresse

Um elemento-chave que está diretamente relacionado ao processo de comer mais quando estamos com estresse é o cortisol. Simplesmente, ele é o hormônio do estresse, que responde a situações de pressão e alto grau de ansiedade.

A forma como o hormônio é “ativado” influencia apetite, acúmulo de gordura, queda de fluxo de sangue para algumas regiões do cérebro responsáveis por regular nosso consumo alimentar. Primeiro, precisamos considerar a diferença entre estresse agudo e crônico.

Situações de estresse agudo, como escapar de um acidente de trânsito, tendem a fazer com que nosso apetite diminua, observa Laura Holsen, neurocientista clínica e professora adjunta de psiquiatria do Hospital da Mulher de Brigham e na Escola de Medicina de Harvard.

Já o estresse crônico, que é cultivado em longo prazo, como estar em um ambiente de trabalho estressante, faz com que o consumo de alimento aumente. Nesses casos, Holsen explica que os níveis de hormônio grelina, que ativam sensação de apetite, aumentam e continuam altos.

E os níveis de leptina – hormônio que ativa a sensação de saciedade – diminui em situações de estresse agudo, sobretudo em pessoas que estão numa média de peso equilibrada, de acordo com a pesquisa.

Essas variações hormonais podem afetar o apetite e reduzir a sensação de saciedade quando estamos estressados, o que pode fazer com que a gente perca o controle da quantidade de alimento que consumimos.

Uma pesquisa observou que pessoas que costumam comer de forma emocional tem a ativação do sistema de recompensa no cérebro reduzido.

Isso significa que essas pessoas têm uma sensitividade de recompensa pequena para alimentos palatáveis, que pedem alimentos ricos em gordura e açúcar para ativar esse sistema de recompensa, que faz com que essas pessoas comam em excesso.

A vida me força a comer…

Agora, vamos para os fatores fora do nosso corpo que influenciam esse comportamento de comer mais quando estamos com estresse.

Cheskin aponta que o efeito do estresse na rotina alimentar de alguém pode ser um hábito aprendido. Ele observa que pessoas que cresceram em ambientes onde as pessoas usavam a comida para lidar com estresse tendem a levar esse hábito para a própria vida.

Então, pessoas aprenderam com familiares que comer um docinho ou uma coxinha quando estava estressado ajudava a melhorar o estresse, ainda que por pouco tempo. Ao longo da vida, quando essas pessoas passam por situações estressantes, acabam sempre recorrendo ao recurso do “hoje foi um dia difícil, eu mereço uma comida de mimo”.

Males que vêm para males

Ademais, consumir alimentos ricos em gordura e açúcar aumentam os níveis de hormônios do bem-estar: serotonina e dopamina.

Rachel Goldman, professora adjunta no Departamento de Psiquiatria da Escola de Medicina de GrossMan NYU, observa que, “quando comemos esses ‘mimos’, nosso sistema de recompensa é ativado de forma imediata, o que faz a gente se sentir bem”.

E o que era um “mimo” de vez em quando pode se tornar frequente. Com o tempo, se sempre você come mais quando está com estresse, isso pode afetar sua saúde com o desenvolvimento de doenças associadas a hipertensão e diabetes.

Como domar a fera faminta interior

Antes de nutrir sentimentos de ressentimento com seu corpo, vale dizer que esses fenômenos bioquímicos que acontecem no nosso corpo são naturais. A intenção deles é garantir a nossa sobrevivência e nossa felicidade da melhor maneira possível.

Agora que você entende o porquê de comer mais quando está com estresse e que isso pode ser prejudicial, é importante fazer esforços para melhorar essa relação entre o estresse e a comida.

Cheskin fala que o primeiro passo para mudar esses hábitos é identificar os padrões, entender quais situações e contextos costumam te levar a comer de forma descontrolada.

Uma vez que você está consciente desses padrões, você consegue usar estratégias e soluções alternativas para essas situações, como fazer uma tarefa em casa para se distrair, falar com uma pessoa querida ou comer um “mimo” mais saudável.

Goldman recomenda que você crie pelo menos três mecanismos alternativos para lidar com o estresse. Caso um não dê certo, automaticamente você já tem outras opções para te ajudar e garantir que não vai cair no ciclo vicioso da comida ou que até melhorem essa relação em longo prazo.

Por fim, tenha empatia e compaixão com você mesmo nesse processo. Lembre-se de que foram hábitos aprendidos há muito tempo e que essa mudança também vai levar um tempinho para se estabelecer.

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