Pesquisa mostra aumento de 45% no número de ataques em escolas no Brasil
Pesquisas apontam o perigo da radicalização on-line e o aumento da cultura da violência no país.
Os ataques a escolas pareciam uma história distante dos Estados Unidos, mas casos como o da creche em Blumenau (5/4) têm aumentado e denunciam um dado alarmante: na virada de 2022 a 2023, foram registrados mais ataques do que nos 20 anos anteriores, aponta pesquisa da Universidade de São Paulo (USP).
Somente no primeiro trimestre de 2023 já foram registrados, pelo menos, quatro casos de destaque, como a bomba caseira em Monte Mor (SP), em 13 de fevereiro; o ocorrido fatal que vitimou uma professora em São Paulo, em 27 de março; o ataque a facas em uma escola do Rio de Janeiro, em 28 de março; e agora o recente atentado à creche em Santa Catarina.
Um levantamento realizado por Michele Prado, pesquisadora do Monitor do Debate Político no Meio Digital da USP, registrou 22 ataques a escolas entre outubro 2002 e março de 2023.
Apesar de a pesquisa não contar com os casos de Blumenau e Rio de Janeiro, ao todo 11 dos casos presentes no levantamento haviam sido registrados somente entre 2022 e 2023.
Crescimento dos ataques a escolas no Brasil
Já pesquisadores da Universidade de Campinas (Unicamp) fizeram um levantamento considerando somente os casos que envolviam alunos e ex-alunos como agressores e chegaram a números semelhantes.
A pesquisa, liderada por Telma Vinha, doutora em Educação e professora da Unicamp, registra 22 ataques entre os anos de 2002 e 2023, sendo 10 deles nos últimos dois anos.
Isso significa um aumento de cerca de 45% de ataques em escolas no Brasil em um ano.
Exército de radicalização on-line está envolvido nos ataques
Para Michele Prado, o aumento na frequência dos ataques é reflexo de um processo de radicalização online em massa. Esse processo envolve um público muito grande e jovem – a partir dos 10 anos.
Além disso, Prado percebe que não há uma única razão para a radicalização. Ao contrário do que muitos acreditam, geralmente os agressores têm perfis bem diferentes. Ela explica:
“Elas não estão da deep web ou na dark web, estão na superfície, em aplicativos como Discord, Twitter, TikTok, Telegram e WhatsApp […]
Alguns jovens se queixam de bullying, outros parecem ter transtorno de personalidade narcisista, com perfil de agressores e não de vítimas. Nas redes, eles são expostos a teorias conspiratórias que desumanizam grupos específicos.”
Danila Di Pietro, pesquisadora da Unicamp que fez parte do grupo liderado pela professora Telma Vinha, percebe que o aumento no número de ataques em escolas no Brasil está relacionado ao avanço da cultura de violência no país. Ela explica:
“De cinco anos para cá, passamos por uma banalização da violência. O uso de armas de fogo, de um discurso de ódio, separatista, racista, misógino, homofóbico até por autoridades oficiais, com isso ganhando escala pública, tudo isso faz com que as pessoas que cultivavam esses valores no seu ambiente privado passem a ganhar corpo público.”