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Produtos lácteos devem ser consumidos com cautela

Para atender à demanda da população e reagir à escassez de matéria-prima no mercado leiteiro, a indústria se adaptou e começou a disponibilizar novos produtos lácteos, que agora vemos com muita facilidade nos supermercados. Mas o quão seguro é fazer essa troca? Do ponto de vista legal e regulatório, esses alimentos possuem nomes e regras […]

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Produtos lácteos devem ser consumidos com cautela

Para atender à demanda da população e reagir à escassez de matéria-prima no mercado leiteiro, a indústria se adaptou e começou a disponibilizar novos produtos lácteos, que agora vemos com muita facilidade nos supermercados. Mas o quão seguro é fazer essa troca?

Do ponto de vista legal e regulatório, esses alimentos possuem nomes e regras muito bem definidos pela nossa legislação. De acordo com os órgãos competentes, como o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) ou a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a venda dessas opções é permitida e não fere nenhuma lei.

Essa estratégia de adaptação dos produtos teve como causa o arrocho da inflação em toda a cadeia produtiva do leite. Que vai do cuidado com o gado até ele chegar às prateleiras dos mercados. Então, a indústria teve que se adaptar.

Porém, algo que os especialistas questionam nessa mudança é a falta de transparência das empresas em informar que não se trata do produto convencional.

É muito comum que os consumidores nem mesmo observem a data de validade dos produtos. Quem dirá verificar a composição para ter certeza do que de fato está comprando, se é um leite “de verdade” ou apenas uma bebida láctea.

Essa tarefa é dificultada para o consumidor, uma vez que muitos desses novos produtos lácteos vêm em uma embalagem muito parecida com a original. Além disso, muitas vezes, ficam lado a lado nas prateleiras, sem uma indicação clara e evidente da sua diferença.

Quando questionadas, a Associação Brasileira dos Produtores de Leite (Abraleite) e a Associação Brasileira de Laticínios (Viva Lácteos) não emitem um posicionamento claro a respeito da discussão.

Já a Nestlé, responsável pela fabricação do clássico “Leite Moça”, diz que a versão atualizada do leite condensado é:

“[…] um novo produto da linha Moça que possui os mesmos ingredientes do Moça Tradicional, porém, em quantidades diferentes, com adição de soro de leite e amido.

Trata-se de um produto de alta qualidade, sem gordura vegetal, estabilizantes ou espessantes, e é uma opção no portfólio da marca para consumidores que buscam soluções com menor desembolso, sem abrir mão do resultado e da qualidade Nestlé.”

O barato sai caro

Mas a questão da apresentação dos novos produtos lácteos não é única preocupação dos especialistas em nutrição, como Laís Amaral, supervisora técnica do Programa de Alimentação Saudável e Sustentável do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec).

Ela explica que:

“[…] a substituição do leite por outros ingredientes significa que o produto vai ter menos proteínas e vitaminas, o que representa um prejuízo na alimentação.”

A nutricionista Carolina Grehs, cofundadora do Desrotulando (aplicativo que analisa e dá notas aos alimentos vendidos com uma série de critérios relacionados à saúde), fala sobre o acréscimo de açúcar na formulação desses alimentos:

“Uma coisa é consumir a lactose, o açúcar natural do leite. Outra muito diferente é o açúcar adicionado de outras fontes, como o xarope de glicose. Isso nos preocupa, pois o leite é um elemento central na dieta de muitos brasileiros e observamos níveis crescentes de obesidade na nossa população, que está relacionada ao consumo excessivo de alimentos calóricos e ricos em açúcar.”

É importante ressaltar que o perigo está sobretudo na quantidade desse alimento que é consumido diariamente. Dados da Embrapa indicam que cada brasileiro consome uma média de 166 litros de leite por ano. Desse modo, talvez o consumo dos produtos lácteos precise ser mais moderado. Mas por quê?

A presença de alguns compostos nesses lácteos “alternativos”, como corantes, emulsificantes etc. fazem com que esses alimentos se encaixem na categoria dos ultraprocessados.

E existe um guia, cujo título é Guia Alimentar para a População Brasileira, com publicação pelo Ministério da Saúde, em 2014, que recomenda que o consumo desses alimentos ultraprocessados seja evitado sempre que possível.

Por conta de seus ingredientes, esses alimentos – como refrigerantes e biscoitos recheados – são nutricionalmente desbalanceados e sua formulação e apresentação levam as pessoas a consumirem esses alimentos em excesso e a substituir alimentos in natura ou minimamente processados.

Isso gera impactos severos à saúde e pode contribuir para condições como hipertensão e diabetes. Portanto, para que o consumidor faça as melhores escolhas para sua rotina alimentar, Grehs recomenda que repare bem nos nomes técnicos que estão nos rótulos dos produtos.

Esses nomes aparecem em letras menores na parte da frente do rótulo. É ali que você descobre se está diante de um creme de leite ou de uma mistura de creme de leite, por exemplo.

Como driblar a camuflagem?

Uma recomendação para saber se você está comprando um produto “original” ou um dos novos produtos lácteos é ler a lista de ingredientes que está na parte de trás da embalagem. Se lá você vir itens como: xarope de glicose, açúcar ou gordura vegetal, fique alerta e considere escolher outro produto.

Outro detalhe para observar é se o alimento tem a palavra “sabor” no rótulo. Isso quer dizer que há a adição de aromatizantes para reforçar o paladar e que o sabor do produto não é natural. Como é o caso de opções como o pó para preparo de bebida sabor leite ou a bebida láctea sabor morango.

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Imagem destacada: Shutterstock/margouillat photo

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Leite que não é leite: ‘produtos lácteos’ tomam as prateleiras dos mercados https://multiversonoticias.com.br/leite-novos-produtos-lacteos/ Wed, 10 May 2023 12:43:30 +0000 https://multiversonoticias.com.br/?p=138592
O que são os novos produtos lácteos no mercado?

Com o aumento de 62% no custo de produção do leite, a indústria tem investido em novos produtos lácteos para atender à população.

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O que são os novos produtos lácteos no mercado?

Tem cara de leite, tem gosto de leite, mas não é leite! Atualmente, é mais comum ver nas prateleiras uma série de novos produtos lácteos com “sabor leite” ou “sabor leite condensado” escrito nos rótulos. Eles são convenientemente dispostos nas gôndolas ao lado dos conhecidos laticínios, mas não o são.

Que moda é essa, agora? Antes de mais nada, é importante saber que essas novas opções alimentícias estão de acordo com a lei. Esses produtos são regulamentados por órgãos competentes, como o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) ou a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Entretanto, optar por uma “mistura de creme de leite com soro de leite” para substituir o creme de leite em uma receita certamente provocará alterações no seu produto. Afinal, não se trata do mesmo produto que a gente costumava consumir e encontrar há alguns anos no mercado.

O que mudou? Para entender o crescimento na produção dessas novas opções de alimentos lácteos, é necessário antes compreender o cenário do setor leiteiro no Brasil. Vamos lá?

Como o leite chega até os mercados?

A pesquisadora Kennya Beatriz Siqueira, da Embrapa Gado de Leite (em Juiz de Fora – MG), explica que existem três fatores que ocasionaram o aparecimento de novos produtos lácteos no mercado: a crise financeira, a inflação e a escassez de matéria-prima.

Segundo dados da Embrapa, os custos da produção de leite aumentaram em 62% nos últimos dois anos. Para entender esse impacto, precisamos compreender a cadeia produtiva que envolve o processo por trás do leite que chega nas prateleiras dos mercados.

Ao comprar um litro de leite, você não está pagando apenas pelo produto e sua embalagem. Nele, está embutido o preço do transporte, alimentação e cuidado do gato, e problemas naturais – como estiagens, queimadas e excesso de chuvas – que impactam a cadeia produtiva do alimento.

Toda essa cadeia sofreu com o aumento dos preços. Alguns exemplos são: a ração dada ao gado, energia elétrica que mantém os currais e o combustível do transporte dos animais e do alimento final. Kennya explica que:

“Por conta disso, muitos produtores se desfizeram de parte do rebanho e venderam as vacas menos produtivas para os abatedouros.”

E isso significa que há menos leite disponível nas fazendas brasileiras. Todos esses fatores fizeram o leite e produtos derivados em geral os grandes vilões da inflação. De acordo com o Índice de Preços ao Consumidor (IPCA), o leite longa vida teve um aumento de 57% durante o ano.

Soro de leite pode ser um ‘placebo comestível’

Com a matéria-prima mais cara e menos disponível no mercado, a indústria precisou se adaptar para lucrar mais com produtos com qualidade inferior. Daí que surgiu a estratégia de substituir parte do leite na fórmula dos alimentos.

Os novos produtos lácteos que vemos nos mercados atendem às demandas da população, mas com pequenas alterações na embalagem, que às vezes “passam batidas”.

Ao invés de ler a descrição de produto que você estava acostumado, não é incomum encontrar uma “mistura alimentícia com queijo ralado”, um “doce de soro de leite sabor doce de leite” ou um “pó para preparo de bebida sabor leite”. Mas o que isso representa na composição desses alimentos?

Essa mudança implica na quantidade de leite que, de fato está presente na composição desses alimentos. Basicamente, o leite foi trocado pelo soro de leite, que é um composto que “sobra” e costumava ser descartado na produção de queijos.

Soro de leite é utilizado em novos produtos lácteos
Imagem: Webmeta/Reprodução

Em média, a produção de um quilo de queijo gera cerca de oito litros de soro. Então, pense em quanto soro costumava ser jogado fora que agora é aproveitado pela indústria de laticínios.

Até onde se sabe, esse produto não faz mal à saúde e pode ser consumido, porém possui menos nutrientes que o leite. O professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Rafael Claro, alerta que:

“O soro, porém, tem uma base sólida muito menor do que o leite. Essencialmente, ele é água, com um teor menor de proteínas e carboidratos. E isso muda a composição do produto final para algo pior do ponto de vista nutricional.”

Novos produtos lácteos têm muitos aditivos

Então, você deve estar se perguntando: como que um alimento diluído continua se parecendo com o que costumávamos comprar antes?

Bem, para que os alimentos mantenham o sabor e a textura familiar dos originais, além do soro de leite, as empresas adicionam outros ingredientes complementares que dão consistência e sabor, como o amido, a gordura vegetal e o açúcar.

Mas, em alguns casos, acrescentar esses compostos não é suficiente para que o produto se pareça com o original. Então, as empresas precisam acrescentar outros compostos químicos, como emulsificantes, adoçantes e aromatizantes.

Vale ressaltar que a gordura vegetal, por exemplo, não é bem digerida pelo corpo humano. O açúcar também faz muito mal para o organismo quando consumido em excesso.

Ainda, mesmo que os produtos se pareçam em textura e sabor com os originais, eles não têm as mesmas propriedades nutricionais que a opção não aditivada – que agora é muito mais cara e difícil de encontrar.

Caso o consumidor sinta que foi lesado na apresentação do produto ao realizar uma compra, ele tem o direito de acionar órgãos de fiscalização. Para isso, basta fazer uma denúncia no Procon, no site do Consumidor e no Observatório de Publicidade de Alimentos.

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