Assistentes virtuais são geralmente femininas, mas por quê? Entenda

O fenômeno da feminilidade em assistentes virtuais: uma análise sobre a mentalidade sobre o gênero feminino dentro da tecnologia.

Assistentes virtuais como Alexa, Siri, Lu e Bia são cada vez mais presentes em nossas vidas, tornando-se verdadeiras companheiras digitais para auxiliar em diversas tarefas do dia a dia.

No entanto, o fato de serem geralmente associadas ao gênero feminino levanta questões importantes sobre o papel das mulheres na sociedade e como a tecnologia pode perpetuar estereótipos de gênero.

Uma tradição de quase cem anos

Desde a criação do cinema, em 1927, com o filme ‘Metrópolis’, a figura feminina tem sido associada a robôs e inteligências artificiais.

As assistentes virtuais modernas mantêm essa tradição, com nomes femininos e vozes suaves que são percebidas como mais dispostas a ajudar e resolver problemas.

Tal escolha não é apenas uma questão de preferência do usuário, mas também reflete aspectos mercadológicos das empresas por trás desses assistentes.

Alexa, da Amazon. – imagem: Shutterstock/Reprodução

Estudos como o de Clifford Nass, da Universidade Stanford, apontam que a voz sintética feminina é vista como mais amigável e acolhedora, enquanto a masculina é associada à autoridade.

Tal percepção pode influenciar como interagimos e nos relacionamos com as assistentes virtuais.

Além disso, a Unesco alertou para o caráter sexista de criar assistentes virtuais com características femininas que reforçam estereótipos de subserviência e servilidade.

A questão do assédio e do machismo também surge quando se trata das interações com assistentes virtuais.

Empresas como o Bradesco e o Magazine Luiza tiveram de lidar com casos de ofensas e assédio contra suas assistentes, levando a ações de conscientização e combate a esse tipo de comportamento.

As mulheres que trabalham nessa indústria também enfrentam desafios, como o desequilíbrio de gênero e a reprodução de estereótipos por parte da tecnologia.

Diante desse cenário, é importante repensar a forma como as assistentes virtuais são criadas e representadas.

A possibilidade de escolher vozes masculinas ou sem gênero para esses assistentes é um passo na direção certa, permitindo maior diversidade e representatividade.

As empresas também devem se comprometer com a promoção da igualdade de gênero e o combate ao machismo, tanto na tecnologia quanto na sociedade como um todo.

A criação de assistentes virtuais como Nat, da Natura, que promovem diálogos saudáveis e incentivam a autoestima das pessoas, especialmente mulheres negras, mostra que a tecnologia pode ser utilizada de forma positiva e inclusiva.

Enquanto não houver uma igualdade real de oportunidades para as mulheres, é fundamental que a tecnologia não contribua para reforçar estereótipos prejudiciais.

Em suma, a associação das assistentes virtuais ao gênero feminino levanta questões importantes sobre representatividade, igualdade de gênero e combate ao machismo.

As empresas e a sociedade como um todo devem se comprometer com a promoção de uma tecnologia mais inclusiva e respeitosa, que não reproduza estereótipos nem preconceitos em suas criações.

A mudança começa por nós, no modo como interagimos com assistentes virtuais e encaramos o papel das mulheres na tecnologia e na sociedade.

Com informações de Laura Mariano e Mauricio Xavier, de O Globo.

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