Afinal, por que não conseguimos fazer cócegas em nós mesmos?
Entenda como o cérebro evita que sintamos cócegas feitas por nós mesmos e o que isso revela sobre a percepção humana.
Você já tentou fazer cócegas em si mesmo e percebeu que simplesmente… não funciona? Por mais sensível que você seja, seu corpo permanece indiferente quando o toque vem de suas próprias mãos.
Mas essa curiosa incapacidade de provocar cócegas em si mesmo não é um defeito — é uma demonstração notável de como o cérebro humano antecipa o que está por vir.
Segundo especialistas em neurociência e percepção sensorial, a resposta para esse fenômeno está menos nas terminações nervosas da pele e mais na incrível capacidade do cérebro de prever estímulos sensoriais.
Por que não conseguimos fazer cócegas em nós mesmos?
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Sempre que você executa um movimento — como tocar seu próprio braço — o cérebro emite dois comandos simultâneos.
- Um para os músculos realizarem o movimento;
- Outro, chamado de “cópia eferente”, para as áreas sensoriais anteciparem a sensação que será gerada.
Esse mecanismo de previsão sensorial permite ao cérebro distinguir entre estímulos internos (provocados por você) e externos (vindos do ambiente).
Assim, ele minimiza a resposta neural aos toques autoinduzidos, já que eles não representam perigo. Resultado? Você não sente cócegas quando se toca.
Em pessoas com determinadas condições neurológicas, como a esquizofrenia, o cérebro pode falhar ao reconhecer seus próprios comandos sensoriais.
O resultado? Elas podem sentir cócegas ao se tocarem, porque o cérebro interpreta esses estímulos como se fossem externos e imprevisíveis.
Um estudo publicado na Live Science destacou que esse tipo de falha está ligado a um “relógio interno desregulado”, o que prejudica a antecipação dos estímulos e faz com que até um toque intencional seja percebido como surpresa — o principal gatilho das cócegas.
Por que estudar as cócegas pode ajudar a ciência?
Compreender por que não conseguimos fazer cócegas em nós mesmos não é apenas uma curiosidade divertida. Esse fenômeno revela aspectos fundamentais sobre:
- O funcionamento do cérebro humano;
- A forma como o corpo diferencia o toque próprio do toque alheio;
- O papel da previsibilidade sensorial na percepção de ameaças;
- E o impacto desses mecanismos em transtornos mentais e distúrbios de percepção.
Estudos com magnetoencefalografia, por exemplo, mostram que o cérebro reage com menor intensidade a estímulos que ele mesmo provoca.
A surpresa — e não o toque em si — é o verdadeiro gatilho da reação típica das cócegas.
A incapacidade de provocar cócegas em si mesmo não é um defeito, mas uma evidência de como o cérebro funciona como um filtro inteligente entre o mundo externo e a sua percepção.
Sentir, antes de tudo, é interpretar. E nesse processo, só o inesperado tem o poder de nos fazer rir.