Nova ameaça ambiental: propagação da "neve de melancia" preocupa cientistas
O rápido avanço desse fenômeno levanta preocupações sobre o futuro das geleiras e seu impacto no meio ambiente.
Você alguma vez na vida já viu neve vermelha? Eu sei que a pergunta parece estranha, mas ela realmente existe em alguns lugares do mundo e é conhecida como “neve de melancia”.
Tal expressão descreve um fenômeno em que a neve no solo adquire tonalidades vermelhas e rosadas.
O evento, também chamado de “sangue glacial”, é causado pelo florescimento de algas cor-de-rosa denominadas Chlamydomonas nivalis.
Além da clorofila, essa alga possui um pigmento carotenoide vermelho. Diferentemente da maioria das algas de água doce, a Chlamydomonas nivalis é clorofílica, ou seja, prospera em ambientes frios, desenvolvendo-se em águas geladas.
Crescente ameaça aos glaciares
O fenômeno da “neve melancia” e seus efeitos na redução das geleiras são observados globalmente.
O Capitão John Ross foi o primeiro a descrevê-lo no Ártico em 1818, durante a liderança de quatro navios ingleses enviados para a primeira expedição à Passagem do Noroeste no Círculo Polar Ártico.
Neve cor-de-rosa em alta altitude na Passagem de Montanha do Parque Nacional das North Cascades, Washington, EUA – Foto: Reprodução/Tempo.com
Mais recentemente, segundo um estudo, foi constatado que o evento se estende por 5% da área total das geleiras no noroeste da América do Norte.
Essa parte abrange as montanhas da Colúmbia Britânica, Idaho, estado de Washington, Alberta, Alasca e Montana.
Descobriu-se que, em alguns glaciares individuais, até 65% de sua superfície estava coberta por algas cor-de-rosa durante uma única estação.
Os pesquisadores estimam que esse fenômeno tenha causado um derretimento equivalente a uma média de 3 centímetros de água na superfície do glaciar.
Segundo Lynne Quarmby, professora de biologia molecular e bioquímica da Universidade Simon Fraser, o gelo derrete ao absorver cores escuras.
Quando a geleira fica cor-de-rosa, torna-se mais suscetível ao derretimento, pois as algas coloridas absorvem a luz solar em vez de refleti-la, aquecendo o gelo ao redor.
As algas estudadas crescem na neve que cobre lagos, rochas e glaciares congelados. Como suas células necessitam de água líquida para crescer, o rápido derretimento estimula um maior crescimento, escurecimento e absorção da energia solar.
Utilizando milhares de imagens de satélite captadas entre 2019 e 2022, os pesquisadores descobriram esse acontecimento.
Dos 8.700 glaciares examinados neste estudo, 4.552 apresentaram a presença de algas Chlamydomonas nivalis.
Comparado aos impactos das mudanças climáticas e do aquecimento global, o efeito das algas sobre as geleiras e a camada de neve é considerado ligeiro.
Os glaciares estão derretendo rapidamente devido às mudanças climáticas, o que leva ao desaparecimento total das algas.
A “neve de melancia” não se limita apenas ao Ártico, ela também pode ser encontrada na Nova Zelândia, nos Alpes, no Monte Olimpo e na Antártida.
À medida que os glaciares diminuem, o efeito de fusão das algas da “neve de melancia” remanescente pode causar ainda mais danos à neve e ao gelo.
De acordo com o ecologista Scott Hotaling, da Universidade do Estado de Utah, conforme a camada de neve diminui, a proliferação de algas se torna mais concentrada e restrita.
Confira abaixo um vídeo sobre a “neve de melancia”.