Mangás ou quadrinhos: qual gênero é mais influente?
Disputa acirrada entre mangás japoneses e quadrinhos americanos evidencia diferenças entre fatores econômicos, culturais e até gestão de direitos autorais.
Não é de hoje que a rixa entre norte-americanos e japoneses, tanto mercadológica quanto ideologicamente, inflama discussões sobre as produções de histórias em quadrinhos de cada país.
A acirrada competição é tema de um artigo provocativo do japonês Yoshikazu Hayashida, que lança luz sobre as razões por trás do sucesso global dos mangás em comparação com os quadrinhos dos Estados Unidos.
Imagem: Shutterstock/Jeff Whyte
Hayashida argumenta que o uso de papel reciclado nas volumosas antologias semanais de quadrinhos no Japão viabiliza economicamente uma maior quantidade de histórias. Além disso, cria espaço para novos talentos e narrativas experimentais.
Em contraste, nos Estados Unidos, a produção, principalmente do mercado mainstream, utiliza páginas coloridas de alta qualidade, fato que encarece os custos e limita as edições mensais a cerca de 30 páginas.
Direitos autorais e incentivos a autores japoneses
Nesse cenário, a manutenção dos direitos autorais também emerge como um diferencial crucial para os autores japoneses.
Enquanto nos Estados Unidos as grandes editoras mantêm um controle significativo sobre as criações, no Japão, selos como Image, Dark Horse e TokyoPop oferecem acordos mais favoráveis quanto ao copyright.
Essa liberdade estimula a criatividade e permite que mangás menos conhecidos alcancem o sucesso, um fenômeno raro nos quadrinhos norte-americanos.
Hayashida aborda ainda a centralização da distribuição nos Estados Unidos, apontando para as comic shops e o Direct Market, gerenciado pela Diamond, como fatores que limitam as vendas.
Assim, a falta de diversidade na distribuição impacta diretamente nas cifras, evidenciando uma lacuna entre os dois mercados.
Cultura e respeito artístico no Japão
Além dos fatores mencionados, o autor destaca a ausência de distinção no tratamento dado aos quadrinhos e a seus artistas no Japão, comparando-o favoravelmente ao reconhecimento dado aos escritores de prosa.
Essa abordagem equitativa reflete-se não apenas na produção, mas na receptividade dos consumidores, que abraçam os mangás como formas de arte completas, gerando um ciclo de consumo que vai além da leitura.
Hayashida, mesmo não abordando totalmente o cenário norte-americano, destaca o sucesso do Japão ao associar respeito à manifestação artística com uma sólida estrutura administrativa e comercial.
Com base nisso, a batalha entre mangás e quadrinhos vai além das preferências individuais. No entanto, em larga escala e com base nas evidências de Hayashida, os mangás tendem a se sobressair em relação às HQs.
Fato é que essa disputa revela um panorama intricado de fatores econômicos, culturais e de gestão que moldam o destino dessas narrativas ilustradas em escala global.