Fungo causador de doença de pele preocupa saúde pública do Brasil
Patógeno possui maior capacidade de transmissão e maior resistência aos antifúngicos mais comuns.
Descoberto na década de 1990, desde então o fungo Sporothrix brasiliensis acende um alerta nas autoridades e em estudiosos da área da saúde.
Isso porque, mesmo sendo pouco conhecido pela população, esse fungo é responsável por causar a doença esporotricose, uma micose subcutânea que pode afetar tanto pessoas quanto animais.
Histórico
Os fungos da família Sporothrix já são de conhecimento da comunidade cientifíca desde o final do século 19, principalmente por seu trabalho de decomposição de matéria orgânica no meio ambiente.
Em determinados casos, esses fungos podem causar doenças em humanos, como é o caso do Sporothrix brasiliensis. Esse patógeno passou a ser de conhecimento das autoridades de saúde brasileiras após os primeiros casos de infecção ocorrerem no Rio de Janeiro, no final da década de 1990, com quase 180 casos que a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) mapeou. No mesmo período, também descobriram que as transmissões ocorriam, em grande parte das vezes, por meio de gatos de rua.
Em entrevista à BBC News Brasil, o médico Flavio Telles, da Sociedade Brasileira de Infectologia, explicou:
“Por algum motivo, o fungo se adaptou aos gatos. Neles, o patógeno causa uma doença disseminada, que provoca ferimentos no rosto e nas patas.
E um gato infectado transmite para outros, além de passar para cachorros e seres humanos. Isso porque fazem parte da biologia dos felinos as disputas físicas na busca por territórios, alimentos e acasalamentos, em que um animal morde e arranha o outro.”
Os cientistas também deixam claro que os gatos não são os culpados pela esporotricose. A espécie é tão vítima quanto os humanos, uma vez que é cometida pela doença por meio do fungo.
Causas e transmissão
Com o avanço das pesquisas, houve novas constatações por parte dos cientistas, porém ainda há pontos que necessitam de melhor compreensão. Dentre as causas para o surgimento dessa infecção, está o desequilíbrio ambiental.
Assim, conforme o ser humano passou a habitar diferentes territórios sem uma ordem, isso gerou diversas doenças que antes estavam na natureza e acabaram “saltando” para as pessoas, como o exemplo do coronavírus.
O microbiologista Marcio Lourenço Rodrigues, da Fiocruz Paraná, explica:
“Há uma associação direta entre esse fato e a ocupação do solo, o desmatamento e a construção de moradias. Ou seja, você passa a ter uma desorganização de ecossistemas que antes estavam em equilíbrio e isso expõe animais e seres humanos a novos patógenos.”
De acordo com levantamentos, detectou-se o fungo também em outros países da América Latina, como Argentina, Paraguai, Bolívia, Colômbia e Panamá.
Essa “viagem” pode ter acontecido por meio de animais ou pessoas infectadas. Uma hipótese é o transporte por ratos, que também podem carregar o parasita.
O Ministério da Saúde aponta a principal forma de transmissão:
“Os indivíduos geralmente adquirem a infecção pela implantação do fungo na pele ou mucosa por meio de um trauma decorrente de acidentes com espinhos, palha ou lascas de madeira; contato com vegetais em decomposição; ou arranhadura ou mordedura de animais doentes, sendo o gato o agente transmissor mais comum.”
Para o tratamento da doença, são utilizados antifúngicos, após avaliação clínica e orientação médica. Esse acompanhamento pode durar de três meses a um ano, até a cura completa do paciente.
Existem soluções à vista?
Os cientistas evidenciam que o desequilíbrio ambiental é uma das causas do surto dessa doença, que há quinze anos não era uma questão no Brasil.
Hoje, apontam que será necessário um trabalho de saúde pública que englobe o governo e profissionais de diferentes áreas da saúde para entender formas de combater essa e outras doenças que possam ser problemas maiores em nível global.